Zelensky insinua que plano de Trump fere ‘dignidade’

ROMA, 21 NOV (ANSA) – O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta sexta-feira (21) que o país está diante de uma encruzilhada e insinuou que aceitar o plano de paz proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, significaria abrir mão da “dignidade” nacional.   

O mandatário fez um pronunciamento à nação, em meio às pressões da Casa Branca para aceitar um acordo que representaria perdas territoriais, anistia para Moscou e o fim do anseio de entrar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).   

“Estamos agora em um dos momentos mais difíceis da nossa história. A pressão sobre a Ucrânia está no auge”, declarou Zelensky em seu discurso.   

“A Ucrânia pode se encontrar agora diante de uma escolha muito difícil: ou a perda de sua dignidade, ou o risco de perder um parceiro crucial; ou os 28 pontos [do plano de paz de Trump], ou um inverno extremamente difícil, o mais difícil”, acrescentou o presidente.   

Segundo ele, os interesses ucranianos precisam ser “levados em consideração”, e Kiev trabalhará “com calma com a América e todos os parceiros”. “Não daremos nenhum motivo para o inimigo dizer que a Ucrânia não quer a paz e não está pronta para a diplomacia”, prometeu.   

Zelensky também fez um apelo por união nacional, na esteira do terremoto político causado pelo escândalo de corrupção que derrubou ministros e altos dirigentes nos últimos dias.   

“Precisamos nos unir, parar com as bobagens e com os jogos políticos. O Estado tem de funcionar, o Parlamento de um país em guerra precisa trabalhar de forma eficaz”, salientou.   

A divulgação de detalhes do plano de Trump provocou alarme na Europa e ligações de última hora para tentar propor alternativas menos draconianas para Kiev.   

A proposta americana estabelece que a Ucrânia cederá toda a região da Bacia do Don (Donbass), incluindo as províncias de Donetsk e Lugansk, à Rússia e limitará seu exército a 600 mil efetivos.   

Além disso, prevê anistia para os dois países, o que impediria que dirigentes russos sejam processados por crimes de guerra, e um pacto de não agressão entre Europa, Rússia e Ucrânia, determinando que todas as “ambiguidades” dos últimos 30 anos sejam consideradas “resolvidas”.   

O plano de Trump ainda fixa a realização de eleições para a sucessão de Zelensky em até 100 dias após a assinatura do acordo e coloca a usina de Zaporizhzhia, maior central nuclear da Europa, sob supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), com a eletricidade distribuída igualmente entre Ucrânia e Rússia.   

Nenhum soldado da Otan seria enviado para o território ucraniano, enquanto Kiev abriria mão definitivamente de entrar na aliança militar. Em troca, a Ucrânia obteria “garantias de segurança” contra eventuais futuros ataques de Moscou, incluindo a presença de um esquadrão de caças europeus na vizinha Polônia.   

Nesse esquema, uma agressão contra Kiev seria tratada como um ataque a “toda a comunidade transatlântica”. Trump, no entanto, tem pressionado para Zelensky aceitar a oferta rapidamente e teria dado prazo até 27 de novembro, sob o risco de cessar a ajuda militar à Ucrânia, segundo a imprensa americana. (ANSA).