Zelensky celebra ‘passos importantes’ nas negociações de paz após reunião em Genebra

Presidente ucraniano destacou, no entanto, que mais trabalho é necessário para acabar com a guerra com a Rússia

FABRICE COFFRINI / AFP
Comitiva dos EUA conversa com a delegação ucraniana durante as discussões sobre um plano para encerrar a guerra na Ucrânia, na Missão dos EUA em Genebra Foto: FABRICE COFFRINI / AFP

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, celebrou nesta segunda-feira, 24, os “passos importantes” que foram dados na reunião de cúpula com os Estados Unidos em Genebra, mas afirmou que ainda há muito por fazer para acabar com a guerra com a Rússia.

“Nos passos que coordenamos com a parte americana, conseguimos incluir pontos extremamente delicados”, declarou Zelensky em uma conferência virtual na Suécia, antes de acrescentar que “para alcançar uma paz real, é necessário mais”.

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‘A melhor até agora’

O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, disse no domingo que fez um bom progresso nas conversações sobre um esboço do plano dos EUA para acabar com a guerra na Ucrânia, quando se reuniu com uma delegação ucraniana em Genebra.

“Portanto, acho que a conclusão é que esta é uma reunião muito, muito significativa, eu diria, provavelmente a melhor reunião e dia que tivemos até agora em todo esse processo, desde quando assumimos o cargo em janeiro”, declarou Rubio aos repórteres.

As conversações em Genebra continuavam. Andriy Yermak, chefe de gabinete do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy, disse que a reunião foi “uma primeira sessão muito produtiva com a distinta delegação norte-americana”.

Yermak, escrevendo em inglês no X, afirmou que uma segunda reunião seria realizada “muito em breve ainda hoje” para prosseguir com “o trabalho em propostas conjuntas com o envolvimento de nossos parceiros europeus”. Yermak agradeceu aos Estados Unidos e ao presidente Donald Trump “por seu compromisso com a paz”.

Zelenskiy já havia agradecido a Trump pelos esforços dos EUA para ajudar Kiev, depois que o presidente dos EUA disse nas mídias sociais que os líderes da Ucrânia haviam expressado “zero gratidão” pela assistência dos EUA.

Negociações continuam

Os Estados Unidos e a Ucrânia devem continuar a trabalhar nesta segunda-feira em um plano para acabar com a guerra com a Rússia, depois de concordarem em modificar uma proposta anterior que foi amplamente vista como muito favorável a Moscou.

Os dois lados disseram em uma declaração conjunta que haviam elaborado uma “estrutura de paz refinada” após conversas em Genebra no domingo, embora não tenham fornecido detalhes específicos.

A Casa Branca disse separadamente que a delegação ucraniana havia dito que o plano “reflete seus interesses nacionais” e “aborda suas principais necessidades estratégicas”, embora Kiev não tenha emitido uma declaração própria.

Não ficou claro como o plano atualizado lidaria com uma série de questões, inclusive como garantir a segurança da Ucrânia contra as ameaças contínuas da Rússia. Os Estados Unidos e a Ucrânia disseram que continuariam a “trabalhar intensamente” antes do prazo final de quinta-feira, embora o secretário de Estado, Marco Rubio, que liderou a delegação norte-americana durante as negociações, estivesse voltando para Washington no final do domingo.

O presidente dos EUA, Donald Trump, manteve a pressão sobre a Ucrânia para chegar a um acordo. No domingo, ele disse que a Ucrânia havia demonstrado “zero gratidão” pelos esforços norte-americanos durante a guerra, levando as autoridades ucranianas a enfatizar seus agradecimentos pelo apoio de Trump.

Trump estabeleceu anteriormente um prazo até quinta-feira para que o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy aceite um plano de paz, mas Rubio disse no domingo que o prazo pode não ser definitivo.

Zelenskiy poderia viajar para os Estados Unidos já nesta semana para discutir os aspectos mais sensíveis do plano com Trump, de acordo com fontes familiarizadas com o assunto.

A proposta inicial de 28 pontos apresentada pelos EUA na semana passada pedia que a Ucrânia cedesse território, aceitasse limites para suas forças armadas e abandonasse suas ambições de entrar para a Otan. Esses termos equivaleriam a uma capitulação para muitos ucranianos após quase quatro anos de luta no conflito mais mortal da Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

O plano original surpreendeu autoridades norte-americanas, e duas fontes disseram no sábado que ele foi elaborado em uma reunião de outubro em Miami que incluiu o enviado especial Steve Witkoff, o genro de Trump, Jared Kushner, e Kirill Dmitriev, um enviado russo que está sob sanções dos EUA.

Os aliados europeus afirmaram que não estavam envolvidos na elaboração do plano original e divulgaram uma contraproposta no domingo, que reduziria algumas das concessões territoriais propostas e incluiria uma garantia de segurança no estilo da Otan dos Estados Unidos para a Ucrânia, caso fosse atacada.

As negociações ocorrem em um momento em que a Rússia vem ganhando terreno lentamente em algumas regiões, enquanto as instalações de energia e gás da Ucrânia têm sido atingidas por ataques de drones e mísseis, deixando milhões de pessoas sem água, aquecimento e energia por horas todos os dias.

Zelenskiy também está sob pressão em seu país, pois um grande escândalo de corrupção envolveu alguns de seus ministros, despertando uma nova raiva contra a corrupção generalizada. Isso complicou os esforços do país para garantir financiamento para manter sua economia em funcionamento.

Kiev ganhou força nas últimas semanas depois que os Estados Unidos endureceram as sanções ao setor petrolífero russo, principal fonte de financiamento da guerra, enquanto seus próprios ataques com drones e mísseis de longo alcance causaram danos consideráveis à indústria.

Kremlin diz que vai esperar

O Kremlin disse nesta segunda-feira que vai esperar para ver como as conversações entre os Estados Unidos e a Ucrânia sobre um possível plano de paz se desenrolam, e não comentará reportagens da mídia sobre uma questão tão séria e complexa.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse nesta segunda-feira que a Rússia não havia recebido nenhuma informação oficial sobre o resultado das negociações de Genebra.

“Estamos, é claro, monitorando de perto os relatos da mídia que têm chegado de Genebra nos últimos dias, mas ainda não recebemos nada oficial”, declarou Peskov aos repórteres.

“Lemos uma declaração de que, após as discussões em Genebra, foram feitas algumas alterações no texto que havíamos visto anteriormente. Vamos aguardar. Parece que o diálogo continua.”

Quando perguntado sobre uma mudança relatada em uma cláusula relativa à Otan e à Ucrânia, que parecia deixar a porta aberta para que Kiev se juntasse à aliança militar liderada pelos EUA um dia, Peskov disse que o Kremlin não discutiria detalhes de qualquer acordo preliminar com base em relatos da mídia.

“Essa é uma questão importante e complexa demais para ser guiada apenas por reportagens da mídia sobre o assunto. Aqui, é necessário confiar em informações obtidas por meio de canais oficiais”, afirmou Peskov.

Ele disse que ainda não havia planos para uma reunião nesta semana entre os negociadores russos e norte-americanos.