Yoon Suk Yeol, de promotor estrela a presidente destituído por impeachment

O sul-coreano Yoon Suk Yeol entrou na política após uma carreira de destaque como promotor. Na presidência, no entanto, ele provocou uma série de crises até ser destituído de maneira definitiva por impeachment nesta sexta-feira (4) por ter declarado lei marcial em dezembro.

Apesar da duração de apenas algumas horas na madrugada de 3 para 4 de dezembro, a suspensão da ordem civil e o envio de soldados ao Parlamento provocaram protestos gigantescos e reviveram traumas do não tão distante regime militar da Coreia do Sul.

A Assembleia Nacional o obrigou a revogar a lei marcial e aprovou, poucos dias depois, a moção de impeachment de Yoon, ratificada nesta sexta-feira pelo Tribunal Constitucional.

Rejeitado inclusive por setores de seu partido conservador, Yoon manteve o tom desafiador nos últimos meses. Ele se entrincheirou durante semanas em sua residência em Seul e resistiu às operações de investigadores e policiais que queriam prendê-lo por acusações de insurreição.

Primeiro presidente sul-coreano em exercício a ser detido e preso, Yoon também se tornou nesta sexta-feira o segundo a ser alvo de impeachment.

“A destituição de Yoon reafirma a resistência da Coreia do Sul como democracia, mas também serve como recordação da fragilidade da democracia”, disse Minseon Ku, pesquisadora de pós-doutorado no Instituto de Pesquisa Global William and Mary.

A democracia “enfrenta ameaças constantes de múltiplos processos, incluindo a desinformação, apesar dos freios e contrapesos do poder”, acrescentou.

– Campanha anticorrupção –

Nascido em Seul em 1960, poucos meses antes de um golpe militar, Yoon estudou Direito e se tornou um famoso promotor com sua campanha de combate à corrupção.

Ele desempenhou um papel fundamental na condenação por abuso de poder de Park Geun-hye, a primeira presidente sul-coreana alvo de impeachment em 2016 e, posteriormente, condenada e presa.

Como procurador-geral em 2019, também processou o principal assessor do sucessor de Park, Moon Jae-in, em um caso de fraude e subornos.

O conservador Partido do Poder Popular, que estava na oposição na época, o convenceu a disputar a presidência pela legenda. Yoon venceu as eleições de março de 2022 ao derrotar Lee Jae-myung, do Partido Democrata, mas com a menor margem de votos na história do país.

– Tragédia de Halloween –

Yoon, no entanto, nunca foi muito apreciado pela população, em particular pelas mulheres, após fazer campanha para eliminar o Ministério da Igualdade de Gênero.

E os escândalos não demoraram a chegar. Um dos primeiros foi a gestão da tragédia das festas de Halloween de 2022 em um bairro de Seul, quando mais de 150 pessoas morreram pisoteadas.

Os eleitores atribuem a seu governo a inflação dos alimentos, a estagnação econômica e as crescentes restrições à liberdade de expressão.

Também foi acusado de abusar dos vetos presidenciais, como quando bloqueou uma lei que abria caminho para uma investigação especial contra sua esposa, Kim Keon Hee, por manipulação do mercado de ações.

Sua reputação afundou ainda mais no ano passado, quando sua esposa foi filmada de maneira secreta aceitando como presente uma bolsa de um designer avaliada em 2.000 dólares. Yoon argumentou que teria sido falta de educação recusar a peça.

Além disso, sua sogra, Choi Eun-soon, foi condenada a um ano de prisão por falsificar documentos financeiros em uma operação imobiliária. Ela foi libertada em maio de 2024.

– “American pie” –

Como presidente, Yoon mostrou uma postura firme diante da Coreia do Norte, que trabalha para desenvolver um arsenal nuclear, e aprofundou ainda mais os laços com o aliado tradicional de Seul, Estados Unidos.

No ano passado, em uma recepção na Casa Branca, ele cantou a famosa música “American Pie”, de Don McLean, para o presidente Joe Biden.

Mas seus esforços para melhorar as relações com a ex-potência colonial da Coreia, o Japão, não foram bem recebidos.

Além disso, desde abril do ano passado, Yoon estava sem apoio no Parlamento, depois que o opositor Partido Democrático obteve maioria nas eleições legislativas.

No discurso em que declarou a lei marcial, Yoon atacou os “elementos antiestatais que saqueiam a liberdade e a felicidade do povo”, em referência à oposição parlamentar.

Apesar das críticas depois da lei marcial, Yoon recebeu apoio de extremistas religiosos e celebridades de direita na internet.

burs-stu/sco/dbh/jvb/fp