A artista plástica e cantora Yoko Ono, personagem marcante da cultura popular no século 20, completou 90 anos essa semana. É impossível dissociar sua imagem de John Lennon, com quem formou um dos casais mais famosos da história. Yoko foi casada com o ex-Beatle durante onze anos, de 1969 até sua morte, em 8 de dezembro de 1980. Mas ela é muito mais que isso: é uma artista transgressora, uma feminista convicta e uma das primeiras mulheres a usar a fama como instrumento midiático e como ferramenta capaz de disseminar suas mensagens a milhões de pessoas.

Em 2007, vi Yoko Ono em pessoa. Ela estava em São Paulo para inaugurar uma retrospectiva e fazer uma performance no Theatro Municipal. Para quem é Beatlemaníaco como eu, vê-la pessoalmente foi como acordar de um sonho que nunca acabou.

Ao contrário de muitos, nunca culpei Yoko pelo fim dos Beatles. Quem diz isso simplifica uma questão bem mais complexa: eles eram muito famosos, muito geniais, muito sagrados… e muito jovens. Uma hora John, Paul, George e Ringo cresceram e perceberam que as diferenças entre eles vieram à tona. E aí cada um se viu grande demais para ser parte de um grupo.

Aos 90 anos, continuo achando Yoko uma mulher fascinante. Quem não é fã dos Beatles não entenderá esse sentimento. Para eles, Yoko sempre foi uma oriental maluca que gravava discos gritando e tirava fotos pelada.

Quem pensa como eu, no entanto, lembra que Yoko estava ali, no meio do furacão, nas performances pedindo paz na cama (os famosos ‘Bed-Ins’), nas passeatas contra a expulsão de John dos EUA, no estúdio com os Beatles. Ela era uma das poucas sortudas que acompanharam, ao vivo, as sessões do ‘Álbum Branco’, do ‘Abbey Road’, do ‘Let it Be’. Ela era A mulher.

As pessoas esquecem (ou não sabem) que Yoko é uma importante artista de vanguarda. Foi uma das fundadoras do movimento (Fluxus), grupo que influenciou o mundo artístico nos anos 60. Foi também pioneira na arte interativa: algumas de suas obras existem apenas na ideia, o que ainda hoje é um conceito altamente subversivo.

Suas obras geniais não são apenas papo de Beatlemaníaco. Com que palavra você descreveria um tabuleiro de xadrez em que todas as peças são brancas? Ela foi pioneira em um campo que inclui hoje nomes como Marina Abramovic e Bill Viola, entre outros. Filha do pianista Yeisuke One e da pintora Isoko Ono, Yoko foi a primeira mulher a entrar em um curso de filosofia no Japão, na renomada Universidade Gakushuin.

Sua performance mais famosa estava entre as obras expostas em ‘Yoko Ono: Uma Retrospectiva’, que ela inaugurou no Centro Cultural Banco do Brasil, em 2007. Trata-se de uma escada branca onde, no último degrau, pendurada no teto, por um barbante, está uma lente de aumento. Aí você sobe na escada e lê o que está escrito lá em cima, em letras bem pequenas: “YES”.

Após ver esta peça, em uma mostra em Londres, John Lennon pediu para conhecer a artista. O resto você conhece.