Por muito tempo, o acúmulo de gordura nas pernas e nos braços foi tratado apenas como uma questão estética. Mas o que parecia “normal” ou até “preguiça” escondia uma condição crônica, dolorosa e progressiva: o lipedema. Recentemente, celebridades como Yasmin Brunet e Jackie Sampaio começaram a falar publicamente sobre o assunto, ajudando a iluminar uma realidade que afeta milhões de mulheres — e que ainda é cercada por desinformação.
“Falar sobre isso é essencial para que mais mulheres identifiquem os sintomas e procurem ajuda médica”, declarou Jackie, ex-participante do reality PC, que usou suas redes para compartilhar a própria vivência com a condição.
Já Yasmin Brunet chamou a atenção ao dizer que convive com o distúrbio e que só descobriu depois de anos de dores, inchaços e julgamentos.
O lipedema é frequentemente confundido com obesidade ou linfedema, mas se trata de uma doença distinta, que provoca o acúmulo desproporcional e doloroso de gordura — principalmente na região das pernas, quadris e, em alguns casos, braços.
“Muitas pacientes chegam ao consultório sem saber que têm uma doença. Acham que é apenas excesso de peso, quando na verdade é um quadro clínico que precisa de atenção”, afirma a médica Dra. Roana Lacerda, especialista no tratamento da condição.
O diagnóstico, segundo ela, é feito com base na avaliação clínica e no histórico da paciente: “Exames de imagem como o ultrassom podem ajudar, mas o mais importante é a experiência do médico para identificar os sinais e diferenciar o lipedema de outras patologias”.
Tratamento além da estética
Ainda sem cura, o lipedema pode ser controlado com um tratamento multidisciplinar, que visa aliviar os sintomas e conter o avanço da doença.
A abordagem inclui alimentação anti-inflamatória, exercícios físicos direcionados, drenagem linfática e o uso de meias e leggings compressivas para reduzir o inchaço e a dor. Em alguns casos, são recomendados medicamentos e, como última alternativa, a lipoaspiração específica para lipedema — sempre aliada ao tratamento clínico.
“O mais importante é entender que se trata de uma questão de saúde, não de vaidade”, reforça a médica.
Autoestima e saúde mental em risco
As consequências do lipedema vão muito além do corpo. A condição pode provocar isolamento social, ansiedade e depressão, especialmente entre mulheres que, por anos, convivem com dor, desconforto e a sensação de inadequação.
“Muitas não conseguem encontrar roupas que sirvam nas pernas. Outras sofrem com piadas ou são vistas como ‘relaxadas’, quando na verdade têm uma doença que exige atenção e cuidado”, destaca a Dra. Roana.
Um estudo recente apontou que apenas 20% das mulheres diagnosticadas com lipedema consideram sua qualidade de vida boa. A taxa de depressão entre elas é três vezes maior do que na população geral.