Os índios Yanomami denunciaram a morte de ao menos nove crianças com sintomas de coronavírus até o momento neste ano no estado de Roraima e solicitaram o envio de médicos à região, segundo um documento divulgado nesta quinta-feira (28).

Um auxiliar de saúde indígena “informou que quatro crianças vieram a óbito na Comunidade Waphuta, e a causa teria sido covid-19, e há ao menos vinte e cinco crianças com os mesmos sintomas e em estado grave”, informou um comunicado do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yekuana (Condisi-YY), enviado às autoridades brasileiras.

Além disso, “um professor da Comunidade do Kataroa informou que cinco crianças vieram a óbito, suspeitas de covid-19”, acrescenta o comunicado.

As crianças, entre “um e cinco anos”, apresentavam sintomas como “febre alta de 38-40 graus, dificuldade de respirar” e “morreram neste mês de janeiro”, duas delas na segunda-feira, afirmou o presidente do Condisi-YY, Junior Hekurari Yanomami.

O Ministério da Saúde indicou, em nota divulgada pelo G1, que está verificando “a veracidade das informações”, e que o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), que atende os yanomami, “encaminhou uma equipe aos locais para averiguar a situação, mas ressalta que, até o momento, os óbitos não foram confirmados para covid-19”.

Em Waphuta, moram 816 pessoas, enquanto há 412 em Kataroa. Ambas comunidades estão localizadas em uma região de difícil acesso e dentro da terra yanomami, que com 96.000 km² e cerca de 27.000 indígenas é a maior reserva indígena do país, na fronteira com a Venezuela.

“Lá está tendo muito surto de coronavírus, sem remédio, sem tratamento e não iniciaram a vacinação (para a covid-19) lá”, acrescentou Hekurari Yanomami.

Ao menos 24 yanomami morreram de covid-19, de um total de 752 indígenas mortos pelo vírus em todo o Brasil, segundo o relatório mais recente da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

“O cenário é grave e exige uma ação articulada e integral dos órgãos responsáveis pela política de saúde”, para os indígenas, afirma o Condisi-YY, que se dirige em especial à Fundação Nacional do Índio (Funai) e à Secretaria de Saúde Indígena, da Ministério da Saúde.

Ambas as organizações não responderam imediatamente ao pedido de informações da AFP.

Desde o final do ano passado, associações e lideranças indígenas afirmam que a disseminação do novo coronavírus na Terra Indígena Yanomami é impulsionada pela presença de garimpeiros e imigrantes ilegais.