25/11/2024 - 6:01
Yamandú Orsi, que venceu as eleições presidenciais no Uruguai, se tornou no domingo o político que, sob as asas do popular ex-presidente José “Pepe” Mujica, levou a esquerda de volta ao poder no país.
O professor de história de 57 anos, que foi duas vezes prefeito de Canelones, o departamento mais populoso do país depois de Montevidéu, derrotou seu rival da coalizão governista de centro-direita Álvaro Delgado.
Com a vitória de Orsi, a Frente Ampla retornará em 1º de março à presidência, que perdeu em 2020 após governar 15 anos.
Há muito tempo, Mujica, uma grande referência da esquerda mundial e presidente do Uruguai de 2010 a 2015, viu que Orsi reunia as qualidades para se tornar seu herdeiro político e apostou muito nele.
“Eu o conheço há cerca de 30 anos, eu o vi se tornar um homem, desde o início”, lembrou o ex-guerrilheiro na reta final da campanha, ao destacar as habilidades como “negociador” de seu pupilo, a quem chamou de “mágico” para alcançar acordos.
Orsi tem ainda uma “vantagem”, segundo Mujica: compreende o país urbano e o país rural.
“Tenho confiança nele, porque o que fez em Canelones foi maravilhoso”, opinou sobre a gestão de Orsi à frente do departamento, que para Mujica é “uma pequena amostra do país” porque reúne “todos os problemas que o Uruguai tem”.
Descendente de espanhóis e italianos, formado em escolas públicas e comprometido com a igualdade social promovida pelo Estado, Orsi encarna o DNA uruguaio.
Francisco Vernazza, especialista em comunicação política responsável pela campanha que levou Mujica à presidência, destacou o perfil de Orsi como “construtor de equipes”.
“Tranquilo, aberto, com empatia pelo rural. É a síntese da identidade da Frente Ampla, dessa coisa profundamente popular”, disse Vernazza ao jornal El País antes do primeiro turno das eleições em 27 de outubro.
Yamandú Ramón Antonio Orsi Martínez nasceu em uma zona rural de Canelones em 13 de junho de 1967 em uma casa sem energia elétrica e mudou para a capital departamental aos cinco anos, quando seu pai ficou doente e não pôde conseguiu continuar trabalhando no campo.
Ele diz que foi criado em uma casa em que “não sobrava nada, mas também não faltava nada”, que sua irmã mais velha o ensinou a ler e que passou sua infância jogando futebol.
Em 1991, formou-se professor de História e lecionou em escolas de Ensino Médio do interior até 2005, quando iniciou sua carreira no governo de Canelones, primeiro como secretário-geral por quase 10 anos e depois como prefeito por dois mandatos.
Ele renunciou ao cargo para disputar as internas partidárias de junho, que venceu com mais de 60% dos votos, superando em muito a ex-prefeita de Montevidéu Carolina Cosse, que contava com o apoio de comunistas e socialistas e se tornou sua companheira de chapa.
Antes, ele foi alvo do que considerou uma “manobra política” para prejudicar sua candidatura, quando uma profissional do sexo trans o acusou de agressão em 2014, uma denúncia que se mostrou falsa e foi promovida por outra mulher trans, integrante do governista Partido Nacional. Ambas estão cumprindo sentenças judiciais.
Quando jovem, Orsi cuidava da loja de seus pais, foi coroinha na Igreja Católica e dançarino de folclore.
Em sua casa não se falava de política, mas a restauração da democracia após a ditadura cívico-militar (1973-1985) o levou a atuar na esquerda. Em 1989, ele aderiu ao Movimento de Participação Popular fundado por Mujica, hoje a principal ala da Frente Ampla.
Além de Mujica, Orsi teve como referências Lucía Topolansky, esposa do ex-presidente, ex-guerrilheira e vice-presidente da República (2017-2020); e Marcos Carámbula, seu antecessor na prefeitura de Canelones e com quem trabalhou lado a lado por 10 anos.
“Yamandú é um homem muito inteligente; aprende e ouve sempre, é muito próximo, tem uma grande sensibilidade”, disse Carámbula. “Ele tem todas as condições para ser um grande presidente”.
Orsi casou duas vezes, a última delas com Laura Alonso Perez. Com ela, o presidente eleito foi pai aos 45 anos, dos gêmeos Victorio e Lucía.
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