Xuxa, O Documentário entrou na reta final nesta quinta-feira, 3, com um dos momentos mais esperados da série original Globoplay: o reencontro entre a apresentadora e sua ex-empresária Marlene Mattos. O quarto e penúltimo episódio, chamado Encontros e Despedidas, mostra uma conversa entre as duas, 19 anos após o rompimento da parceria entre as duas, que também durou 19 anos.

As causas da separação

Frente a frente, as duas relembraram episódios marcantes da trajetória da profissional de ambas. Xuxa contou sobre um episódio que teria acontecido logo após o incêndio no estúdio do Xuxa Park, que aconteceu em janeiro de 2001, levando ao cancelamento do programa. “Te perguntei quando a gente ia voltar a trabalhar com criança e você me falou que você odiava criança.” Rapidamente, a empresária nega que tenha dito isso seriamente. “Nunca odiei criança, não pode ser, se eu disse aquilo eu quis encher o saco”, responde.

Xuxa continua relatando mais coisas que ela teria dito, inclusive algo sobre nojo de crianças especiais, que a apresentadora não chega a detalhar. Também afirma que a fala de Marlene foi um gatilho para a separação entre as duas. “Mas você sabe que foi por isso que a gente se separou”, continua a Rainha dos Baixinhos.

Em resposta Marlene fala que nunca odiou criança, que está trabalhando num projeto chamado Esperança Agora que capacita meninas. “Quantas vezes eu te enganei?”, pergunta Marlene insistindo que teria inventado aquilo para irritar a apresentadora, enquanto Xuxa se mostra surpresa e, em seguida, narra toda a história que teria acontecido na Casa Rosa, onde a loira morava.

“A única coisa que eu me lembro realmente que disse foi ‘você está ficando velha’”, defende-se a ex-empresária. A conversa continua com Marlene dizendo que não tem do que se desculpar por não lembrar de ter dito aquilo. A apresentadora segue falando que não quer que ela peça perdão.

Em seguida, Marlene dá a versão dela para o fim da parceria. “Acho que a gente correu tanto, que desgastou nossa relação. Você pegou isso (a história de odiar crianças) pra gente parar de trabalhar, e eu tava desgastada de tudo”, diz. Xuxa responde: “aí você disse o pior, tá lembrada? Eu vou ali na esquina e pego uma e faço outra noutro dia”. Marlene responde dizendo que tudo foi fruto de cansaço, que deveria estar num momento ruim, esgotada de tanto trabalho. “Se eu disse tudo isso, Xuxa, eu me arrependo.”

Abusos

Durante a conversa, Xuxa aproveita para despejar algumas mágoas sobre Marlene. A apresentadora voltou a comentar as falas da empresária com relação às suas práticas saudáveis, dizendo que ela nunca ia morrer cedo por não se drogar. “Mas eu continuo dizendo isso, acho que os ídolos, os ícones têm que morrer cedo”, diz Marlene.

Da mesma forma, Xuxa lembrou que, durante uma conversa com as ex-paquitas, as ajudantes de palco também relataram que sofriam abusos da diretora. Marlene se defende dizendo que colocava as meninas de castigo porque não admitia notas baixas, que elas eram loiras porque eram uma continuação de Xuxa e que “se elas não fossem Paquitas, ninguém sabia que elas existiam”.

Em seguida, o documentário, que parecia seguir a linha de condenar a empresária, começa a diminuir o peso que Marlene carrega. Apesar de se colocarem como vítimas, as ex-paquitas Andreia Veiga e Tatiana Maranhão também afirmam entender um pouco o comportamento da empresária. “Eu acho que vai também da responsabilidade que você carrega”, diz Andreia. Eu acho que ela era uma pessoa muito exigente, eu entendo, a gente foi muito livre, desbravou um espaço”, conta Tatiana.

Marlene também se defende dizendo a Xuxa que o programa dela era um dos maiores em audiência, que tinha muito “caranguejo” querendo puxar para baixo. Confessa ter sido cruel com algumas pessoas, mas que não se arrepende. “Eu podia fazer algumas coisas diferentes, Xuxa, mas já foi”, responde à apresentadora ao ser perguntada se com ela também.

O documentário segue com relatos de Boni e Sergio Malandro contando sobre histórias de abusos e excessos de Marlene na condução da carreira da apresentadora. “A gente tem que ter cuidado com isso porque o nosso tesouro é a Xuxa”, diz Boni, que foi durante muito tempo um dos principais nomes da TV Globo.

Cárcere privado em quarto de hotel

O documentário segue com as duas conversando. “Sempre tive muito amor por ela (Marlene), mas acho que esse amor me deixou muito cega”, conta Xuxa, que acusa a empresária de ao cuidar dela, estar apenas cuidando do próprio trabalho. “Você me via como trabalho”, continua.

Em seguida, a apresentadora comenta o fato de que Marlene se colocou contra o namoro dela com o piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna. “Primeiro ele era pra você, depois não era mais, a ponto de você chegar e dizer: ‘se ele entrar por uma porta, eu saio pela outra’.”

Xuxa também acusa Marlene de cárcere privado, falando que ficava presa em quarto de hotel. “Eles (os seguranças) diziam: ‘Dona Xuxa, eu não tenho a chave, está com a Dona Marlene’.” Pedro Bial pergunta se ela trancava Xuxa e ela confirma, defendendo que fazia isso por medo das pessoas entrarem no quarto dela. “Mas a Xuxa deixava, né?”, questiona o jornalista. “Deixava porque eu era idiota, Pedro”, responde.

Reencontro com o pai ao vivo

Em uma cena, o documentário mostra o reencontro entre Xuxa e o pai, com quem não falava há sete anos. O episódio que aconteceu em um programa especial. “Marlene tinha uma coisa, se tinha lágrima, ela dizia que tinha ibope. Eu me senti muito usada nesse momento”, diz a apresentadora.

A ex-empresária diz ter apostado nas lágrimas verdadeiras, que sabia que aquilo mexeria com a apresentadora. “Eu pensei em sair, me senti realmente usada, a gente já tinha tido uns ‘pega pra capar’ em coisas que ela inventava e eu não gostava e esse foi um dos momentos muito difícil”, conta Xuxa.

Marlene diz que fez tudo pela família, mas também pela audiência. “O problema era da sua mãe com seu pai, você como filha não tinha que se meter nisso, eu achava isso, o problema dos pais são dos pais, foi lindo”, conta Marlene.

Sucesso e reconhecimento

Em um trecho do episódio, Marlene conta sua história. A ex-empresária diz que via televisão no Maranhão na janela de um vizinho. “Com a Xuxa eu trabalhei por sucesso e reconhecimento”, diz. “E poder?”, questiona Xuxa. “Quem tem sucesso, tem poder”, responde a empresária.

A Xuxa foi a melhor amiga do meu passado, tem duas pessoas que eu amei na minha vida, uma é minha avó, que é para sempre e a Xuxa era a segunda pessoa, não tem mais ninguém que tem esse papel na minha vida”, conta Marlene. “Eu já tive todos os sentimentos bons e ruins pela Marlene e quando vocês propuseram fazer esse encontro eu tive receio porque eu não sou mais aquela menina de 20 anos, e hoje eu sei andar pelas minhas pernas, pensar pela minha cabeça”, conta Xuxa. “Eu vou levar para o meu túmulo coisas que eu fiz e não me sinto nada bem de ter feito”, continua.

Monstro versus marionete

Xuxa diz que tem meia culpa de cada uma das duas. “Eu não me perdoo por ter confiado nas pessoas erradas, por ter acreditado demais, ter feito coisas que eu acho que não deveria ter feito, ter passado tanto tempo da minha vida onde eu deixei as pessoas me manipularem”, declara Xuxa.

“Os teus fãs já me veem assim (como monstro). Não ligo porque o que eu fiz, fiz porque precisei fazer”, se defende a ex-empresária. Marlene lembra que elas começaram a trabalhar há quase 40 anos em um mundo mais machista, que enxergavam a loira como um pedaço de carne. “Eu tive que mudar isso pra você ser uma pessoa respeitada”, continua. “Você era uma marionete em minha mão e eu usava você para fazer outras pessoas de marionete, é assim”, diz. Em seguida, Xuxa fala que esperava que as coisas não tivessem mudado, mas acredita que não.

Críticas ao corpo

Em uma cena, o documentário mostra uma conversa entre Xuxa e Serginho Groisman, ambos em estúdio gravando seus programas Planeta Xuxa e Altas Horas, respectivamente. Serginho pergunta a Marlene que nota ela daria para a alegria de Xuxa e ela responde quatro. Em seguida, a apresentadora diz que a diretora foi até gentil, que nem ligava mais para os esporros de Marlene.

Em seguida, a edição mostra novamente as duas conversando e Xuxa fala que Marlene chamava ela de feia, falava do seu corpo e de seu cabelo, mesmo que elogiasse para outras pessoas depois. “Sempre me sentia cabelo ruim, corpo ruim porque era assim que a pessoa em que eu confiava falava, hoje eu estou bem careca, com minhas rugas, com meu corpo, que muitas vezes ela botou defeito”, conta. Pedro agradece a participação de Marlene e a ex-empresária sai de cena.

Perda da mãe

Também é neste episódio que Xuxa retorna à Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, cidade onde nasceu e viveu a infância. Também relembra a perda de sua mãe, Dona Alda, em 2017, com quem mantinha uma relação de muito amor e cuidado. Há, ainda, o depoimento da Maria do Rosário, ex-funcionária de Xuxa e sua segunda mãe, eleito pela própria apresentadora um dos momentos mais marcantes de toda a série documental.