Ideologia e preferência políticas, cada um tem as suas, mas senso de moralidade, e eu diria humanidade, são atributos comuns, ao menos para quem preza e se arvora a condição de bípede pensante, capaz de viver e conviver em grupo. Chegamos a um momento em que não se discute mais planos e propostas de governo, ou mesmo honestidade, mas princípios mínimos de urbanidade e civilidade.

Neste sentido, a despeito de minhas inúmeras e severas restrições ao lulopetismo, admitir a continuidade de Jair Bolsonaro contrariaria irremediavelmente todos os meus valores. O atual presidente não é apenas alguém desprovido das mínimas qualidades para o exercício do cargo, mas o líder inconteste de uma horda de selvagens, que assola os mais comezinhos direitos individuais e coletivos, impondo, à força, modos e costumes intoleráveis.

Chega de crianças estimuladas a usarem armas. Chega de negros e homossexuais tratados como animais de corte e seres pestilentos

Bolsonaro e o bolsonarismo representam o que há de pior em nossa sociedade, da violência física ao assédio moral, passando pela apropriação de símbolos nacionais, como a camisa da seleção e a bandeira brasileiras, e até mesmo um santuário religioso, o de Nossa Senhora da Aparecida, transformado em palco fascista por bate-paus bolsonaristas. Estamos falando de gente como Nikolas Ferreira, o deputado federal mais votado do Brasil, cuja bandeira é a transfobia assumida e radical. Ou do candidato ao governo do Rio Grande do Sul, Onyx Lorenzoni, que já confessou caixa dois de campanha em eleições passadas, destilando sua homofobia cafajeste sobre o rival Eduardo Leite. Aliás, pergunto ao bolsonarista: primeira-dama “de verdade” é aquela que recebe 90 mil reais em cheques de milicianos?

Chega de crianças estimuladas a usarem armas. Chega de negros e homossexuais tratados como animais de corte e seres pestilentos. Chega de opressão política e ameaça física (presencial e digital). Chega de assassinatos a pauladas, facadas e viaturas policiais transformadas em câmaras de gás. Chega de degradação das instituições democráticas e, agora, planos reais de interferência chavista no Supremo Tribunal Federal. Resumindo, chega de Jair Bolsonaro e de bolsonarismo.

Que ele retorne ao fundão do centrão, que é seu verdadeiro lugar, senão a cadeia, e sua turba, às cavernas ou às jaulas. O Brasil está intoxicado, sufocado e precisa respirar. Se Lula não é a solução – e não é! –, que sirva de mero e breve paliativo, até voltar, um dia, para Curitiba, de onde, aliás, jamais deveria ter saído.