Xi Jinping frustra expectativas de liberalização política

Xi Jinping frustra expectativas de liberalização política

Quando Xi Jinping chegou ao poder na China em 2012, alguns acreditaram que aconteceria uma liberalização política do regime, mas essa esperança evaporou à medida que o presidente foi consolidando seu poder e acentuou o controle do Partido Comunista sobre o país.

Com a abolição do limite de dois mandatos presidenciais, aprovada no domingo no Parlamento chinês, Xi pode permanecer à frente do Estado pelo tempo que desejar e se torna o dirigente mais poderoso da China desde seu fundador Mao Tsé-tung.

Poucos imaginavam tal cenário há cinco anos.

“Xi será ponta de lança de reformas econômicas e, provavelmente, de uma flexibilização política”, previu em janeiro de 2013 Nicholas Kristof no jornal “The New York Times”.

“Durante seu mandato, o corpo de Mao será retirado (do mausoléu) da Praça Tiananmen (em Pequim) e o prêmio Nobel da Paz Liu Xiaobo será libertado”, completou.

Mas o corpo embalsamado de Mao continua sendo venerado em Tiananmen (Praça da Paz Celestial), o ativista democrata Liu Xiaobo morreu de câncer na prisão e as detenções de advogados e defensores dos direitos humanos aumentaram consideravelmente.

Assim como Kristof, muitos analistas atribuíam uma linha liberal a Xi Jinping, cuja família sofreu os expurgos maoístas e que enviou sua filha para estudar na universidade americana de Harvard.

“‘Xi o reformista” era uma quimera, uma construção imaginária que jamais se concretizaria”, explica à AFP Kerry Brown, sinólogo do King’s College de Londres, que lembra que uma ilusão similar aconteceu no governo de seu antecessor Hu Jintao.

– ‘Autossatisfação’ –

Em 2012, quando Xi Jinping se tornou o secretário-geral do Partido comunista Chinês, o ambiente parecia propício: as redes sociais estimulavam o debate público, a economia se abria, os advogados criticavam os excessos das autoridades e foi autorizada uma eleição local democrática na localidade de Wukan (sul).

Hoje, as coisas mudaram radicalmente: Internet, empresas privadas, intelectuais dissidentes e Wukan voltaram a ser submetidos ao controle autoritário do regime.

“Era tomar nossos sonhos por realidade. Há muita autossatisfação em considerar que o Ocidente era um modelo econômico e político”, afirma David Kelly, pesquisador da consultoria China Policy, com sede em Pequim.

Ele cita um erro de percepção. Do ponto de vista de Pequim, “após a crise financeira mundial (de 2008), a China podia se vangloriar de ser o último país sólido diante da tempestade, enquanto no Ocidente as instituições afundavam”.

“Na época, não se podia imaginar que Xi tentaria ser um futuro elemento-chave do poder”, comenta Daniel Piccuta, diplomata americano que já trabalhou em Pequim.

De fato, quando foi nomeado líder do Partido Comunista em Xangai em 2007, “era um candidato de compromisso” para as instâncias dirigentes do partido, que acreditavam em que ele “não ameaçaria seus interesses”, segundo um memorando da embaixada dos Estados Unidos da época, que cita fontes do próprio partido.

“Xi foi eleito, porque era percebido como um personagem muito opaco e medíocre, que apostava no coletivo”, concorda o analista Willy Lam, de Hong Kong.

Todos estavam errados. Uma vez no topo, Xi Jinping iniciou uma grande campanha de combate à corrupção que puniu 1,5 milhão de dirigentes e permitiu que se livrasse de opositores políticos.

– Uma dinastia Xi? –

O fim do limite dos mandatos “é uma espécie de golpe de Estado”, mas é difícil explicar suas motivações, opina David Kelly.

Parlamentares chineses alegaram que Xi Jinping precisa de tempo para terminar as reformas e a campanha anticorrupção.

Apesar do erro em 2013, Nicholas Kristof se atreve a fazer novas previsões.

“O sistema imperial não funcionou tão bem sob os Qing”, a última dinastia chinesa criticada por seu autoritarismo, má gestão e que desabou em 1911, escreveu no Twitter.

“Pressinto que uma dinastia Xi cometerá os mesmos erros”, completou.