A última declaração da tenista chinesa Shuai Peng, que agora nega ter feito acusações de assédio sexual contra Zhang Gaoli, ex-vice-primeiro-ministro chinês, não dissipou as preocupações a respeito do bem-estar da ex-número 1 de duplas. Em um comunicado oficial divulgado na noite de segunda-feira, a WTA reforçou a sua preocupação sobre a segurança da atleta de 35 anos.

“Continuamos firmes em nosso apelo por uma investigação completa, justa e transparente, sem censura, de sua alegação de agressão sexual, que é a questão que deu origem à nossa preocupação inicial”, afirmou a entidade que comanda o circuito profissional feminino, que no começo do mês decidiu suspender todos os torneios na China.

“Foi novamente bom ver Peng Shuai em um ambiente público e certamente esperamos que ela esteja bem. Como afirmamos consistentemente, essas aparições não aliviam ou tratam das preocupações significativas da WTA sobre seu bem-estar e capacidade de se comunicar sem censura ou coerção”, completou o comunicado oficial.

Em entrevista ao jornal inglês Guardian, um pesquisador da China na Human Rights Watch ironizou o vídeo em que Shuai Peng nega ter feito acusações de abuso. “Nossa, tão natural e muito real, todo mundo agora acredita nisso. Parabéns para o PCC (Partido Comunista Chinês)”, disse Yaqiu Wang.

ENTENDA O CASO – Poucos minutos depois da publicação, todos os seus posts foram derrubados e o termo “tênis” foi censurado da plataforma, assim como os nomes da tenista ou de Zhang. A agressão, de acordo com a publicação da tenista, teria ocorrido em 2018, segundo Peng. Ela teria sido coagida pelo político, casado, a fazer sexo. Ela conta que resistiu e chorou antes de acabar cedendo. Nos três anos seguintes, ambos viveram um caso extraconjugal descrito como “desagradável” pela jogadora de 35 anos. Na publicação, a tenista disse que não poderia apresentar evidências que sustentassem sua afirmação pois a relação de ambos era muito restrita.

Peng e Zhang se começaram a se relacionar em 2011, quando se conheceram em Tianjin. Segundo a tenista, eles tiveram uma única relação, consensual, no decorrer daquele ano. Ela dá a entender também que houve uma segunda relação pouco antes dele ser promovido e se ver obrigado a cortar relações com a atleta.

Após a denúncia, Peng desapareceu das redes sociais e a Associação do Tênis Feminino (WTA, na sigla em inglês) não conseguiu entrar em contato com ela. Foram três semanas de silêncio até que a canais de comunicação estatais da China começaram a publicar fotos e até vídeos dela em casa. As publicações não convenceram a WTA e demais entidades.

Nem mesmo a entrevista, por videoconferência, feita pelo presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, tranquilizou a comunidade do tênis. Na conversa, Bach não tratou da denúncia de abuso sexual. Numa segunda conversa por vídeo com o COI, a situação se repetiu. E a WTA seguiu pedindo “provas verificáveis” de que a tenista estava bem, ganhando o apoio da ONU e da União Europeia. Como consequência mais prática, a WTA suspendeu todos os torneios do circuito feminino na China até que o caso fosse resolvido.

Peng se tornou uma referência do esporte na China depois de conquistar, em parceria com a taiwanesa Hsieh Su-wei, os torneios de duplas de Wimbledon, em 2013, e de Roland Garros, no ano seguinte. Após a vitória em Paris, as duas permaneceram 20 semanas na liderança do ranking mundial de duplas. No mesmo ano, Peng também conseguiu o melhor resultado em um Grand Slam de simples ao alcançar as semifinais do US Open.

Em sua carreira, ela conquistou 23 torneios de nível WTA em duplas e dois em simples, com uma premiação de quase US$ 10 milhões. Atualmente, Peng é a tenista número 191 no ranking de duplas e não disputa um torneio WTA desde o Torneio do Catar, em fevereiro de 2020, pouco antes da pandemia interromper as competições durante quase cinco meses.