09/08/2021 - 10:12
Winston Churchill (1874 – 1965) foi um político conservador e estadista britânico, famoso principalmente por sua atuação como primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial. Graças a ele, os avanços de Hitler foram contidos e tivemos agradáveis surpresas não só com seus discursos maravilhosos e seus textos que geraram um Prêmio Nobel de Literatura, mas também com sua arte. Isso mesmo: ele começou a pintar para conter uma depressão e tornou-se um excelente artista.
Churchill era um político diferenciado. Sua preparação para ser um grande líder começou na infância. Nasceu em uma família da nobreza britânica. Seu pai foi um Lorde e um político que chegou a Ministro da Fazenda do Reino Unido. Dizia que o sucesso consiste em ir de fracasso em fracasso, sem perder o entusiasmo. E, foi exatamente assim na sua vida. Entrou no parlamento em 1900, tornou-se ministro em 1905 e manteve-se no poder ao longo de mais de décadas. Fez com que os ingleses resistissem aos ataques dos alemães, engajando todos numa jornada difícil para salvar a Inglaterra, a Europa e o mundo de uma nova Idade das Trevas, mais sinistra e cruel. Em 2002, foi eleito pela BBC o maior britânico de todos os tempos.
Sua história no universo da arte é tão impressionante quanto suas conquistas políticas. A pintura entrou na sua vida na idade adulta, por volta dos 40 anos, para conter o stress após um fracassado ataque naval que ocorreu durante a Primeira Guerra Mundial e lhe custou o título de Primeiro Lorde do Almirantado. O passatempo foi se tornando um hábito e um treino diário. Ele produziu mais de 500 obras, muito mais do que artistas internacionais renomados.
Como pintor, Churchill era quase irreconhecível. Vestia um longo avental branco, mantinha seu chapéu na cabeça e equilibrava o charuto na sua boca enquanto manuseava seus longos pinceis. Entre seus ídolos estavam pintores como Henri Matisse, Édouard Manet, Paul Cézanne e Claude Monet.
Quem apresentou a ele esse universo foi sua cunhada, Lady Gwendoline Bertie, que também era pintora. A pintura veio em seu socorro em um momento muito difícil para a sua vida. O hobby começou de forma despretensiosa. As cores e as pinceladas o ajudaram a vencer a depressão e depois tomaram conta de seus momentos de lazer, sempre regados a bons uísques e charutos. O passatempo cresceu e até o ajudou à medida que sua carreira avançava como escritor, orador e líder político. Acredito que a pintura fez de Churchill um líder mais eficaz, mais observador e humano, sendo determinante em momentos críticos e de importantes decisões.
Dia após dia, sua técnica foi melhorando. Durante cinco décadas, Churchill teve uma intensa produção. Se dizia um amador, mas suas paisagens e marinhas realmente chamavam a atenção e mostravam seu grande talento para a arte. Optou por tinta a óleo e se divertia com as cores brilhantes e com as possibilidades criadas a partir das misturas de tonalidades. Certa vez escreveu que não conseguia fingir que se sentia imparcial em relação às cores e que tinha pena dos tons de marrom, todos sem graça. Para ele, pintar era uma diversão: “as cores são lindas de se ver e deliciosas de espremer”.
Adorava produzir cenas externas de paisagens. Suas viagens ao Egito, Marrocos e ao sul da França também renderam bons quadros. Pintou muitas vezes o próprio lago de sua casa de campo em Kent, chamada Chartwell. O seu estúdio de pintura ainda continua lá, sendo mantido pelo National Trust. Quem visita o local tem a sensação de estar em uma outra dimensão, onde o tempo não passa. Quando não conseguia pintar ao ar livre, produzia retratos e cenas de naturezas mortas. Apreciar um quadro de Churchill é como entrar no íntimo de sua família e descobrir o marido, pai e homem que poucos conheciam na vida privada. Difícil acreditar que ele tinha vários artistas em seu círculo social, dos quais muitos se tornaram seus amigos e seus mentores.
As cores brilhantes de sua arte transmitem alegria, algo bem diferente do cenário cinza e triste da guerra. Tenho a sensação de que o colorido era uma saída para situações de crise, tensão e de depressão, como uma fuga para os momentos mais difíceis de sua vida. Uma prova disso são os quadros produzidos durante as férias de três semanas que tirou na Itália, após ser derrotado nas eleições de 1945.
Aquele político determinado, ousado, confiante e forte nas ideias e nas ações era completamente diferente do Churchill pintor que, de certa forma, era reservado, humilde e muito crítico com sua própria pintura. Dizia que não aspirava criar uma obra-prima e que apenas estava se divertindo com uma caixa de tintas. Mas o político e o pintor tinham algo em comum: detestavam receber ordens. “Estou sempre pronto para aprender, embora nem sempre goste de ser ensinado”, dizia, mesmo reconhecendo que pintar um quadro era como lutar uma batalha. Mesmo ciente dos desafios da pintura, seguia como autodidata, falando que as aulas ao lado de jovens não acrescentariam nada ao seu repertório.
Durante a Segunda Guerra Mundial, ele presenteou o Presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, com uma de suas pinturas. Em janeiro de 1943, depois de participarem de uma conferência em Marrocos para criar uma estratégia contra a Alemanha nazista, Churchill convenceu Roosevelt a se reunir com ele na cidade vizinha de Marrakech para conversarem. O pôr do sol deste momento foi registrado por Churchill num quadro produzido no dia seguinte à partida de Roosevelt. Nesse encontro, os dois líderes exigiram a rendição incondicional da Alemanha, fazendo uma declaração histórica em prol do fim da guerra. A obra “Torre da Mesquita de Koutoubia” foi a única pintura que Churchill fez durante a Segunda Guerra Mundial. Foi vendida pelo filho de Roosevelt, Elliott em 1950 e, depois, passou por vários colecionadores até acabar nas mãos da atriz Angelina Jolie, que o colocou à venda após a separação com Brad Pitt por cerca de 16 milhões de dólares. O leilão feito pela Christie’s de Londres foi mais uma prova de que a arte de Churchill tem alto valor de mercado, além de ser linda.
Apesar dos constantes elogios que recebia por seu trabalho, ficava muito nervoso em mostrar suas telas publicamente ou até mesmo para seus amigos. Em 1947, o então presidente da Royal Academy of Arts conseguiu convencê-lo a enviar duas pinturas para uma exposição anual de verão, mas Churchill insistiu no anonimato e no envio das obras sob o pseudônimo de David Winter. Ironicamente, Churchill ganhou o estrelato e chegou a ser nomeado acadêmico honorário da própria Royal Academy de Londres graças ao seu trabalho artístico. Depois disso, fez sucesso. A exposição “Churchill, o Pintor” percorreu vários museus na América do Norte. Suas obras foram apresentadas em países como Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Outro exemplo de sucesso foi a exposição realizada pela Sotheby’s em Londres no início de 1998, com 105 pinturas. A mostra foi visitada por 12.000 pessoas em duas semanas.
Os quadros de Churchill já renderam um bom dinheiro. A Inglaterra aceitou a doação de 37 de seus quadros em troca de um pagamento de mais de 13 milhões de euros em impostos para quitar os custos de sua filha com a herança. Em 2014, a casa de leilões Sotheby’s vendeu outro quadro de Winston Churchill. “O Viveiro dos Peixes em Chartwell” foi comercializado por cerca de 3 milhões de dólares. Em novembro de 2020, uma tela com a imagem de sua garrafa de seu uísque favorito foi vendida por cerca de 2 milhões de dólares, cinco vezes mais do que era esperado.
Outros políticos tentaram copiar a genialidade de Churchill. O Presidente americano Dwight D. Eisenhower ficou tão fascinado com sua arte que chegou até a construir um estúdio na Casa Branca. Mais recentemente, o ex-presidente George W. Bush fez uma série de retratos de americanos que morreram em guerras. Mas nada se compara à qualidade das obras de Churchill, que podem ser vistas também no Museu Nacional de Churchill, criado para manter o seu legado. Se desejar saber mais sobre um artista ou se tiver uma boa história sobre arte para me contar, aguardo contato pelo Instagram Keka Consiglio, Facebook ou Twitter.