21/10/2016 - 18:00
Em 1961, Winston Churchill (1874-1965) pediu ao filho Randolph que escrevesse sua biografia oficial. A tarefa só seria concluída quarenta anos depois, pelas mãos do historiador Martin Gilbert, autor de “Winston Churchill — Uma Vida” (Casa da Palavra), que acaba de ganhar sua primeira edição brasileira. Em dois volumes que somam 1024 páginas, a obra resume os 90 anos do homem que foi o maior líder britânico do século 20, um dos principais estadistas da História e um espirituoso frasista. Amparado na rica documentação que Churchill produziu sobre si próprio, o livro cobre desde seu fraco desempenho escolar até os últimos dias, quando já havia se afastado da política: “Minha vida acabou, mas ainda não terminou”, escreveu à filha Diana ao completar 85 anos. Quando morreu, em consequência de um derrame, quase dez anos depois de renunciar ao segundo mandato como Primeiro-Ministro, mais de 300 mil pessoas passaram por seu caixão.
SOLDADO OU POLÍTICO?
A longa caminhada de Churchill revela o ambiente e as ideias que moldaram tanto sua carreira militar como política. Hábil na escolha das palavras, tinha dificuldade em pronunciar a letra s, que soava como ch. Publicou 40 livros e centenas de artigos, além dos contundentes discursos que gostava de ditar durante o banho. Em 1953, foi premiado com o Nobel de Literatura. A franqueza gerou inimigos em todas as fases da vida. Em uma passagem famosa, ele golpeou sem clemência a mulher que o repreendera por estar horrivelmente embriagado: “Posso estar bêbado hoje, mas amanhã estarei sóbrio, enquato a senhora continuará horrível”. Segundo Gilbert, “desde seus primeiros anos, Churchill teve uma extraordinária compreensão e visão do fuuto”. Aos 14 anos, em carta a uma tia, ele expôs um dilema: “Se tivesse duas vidas, seria soldado e político, mas, como acho que não haverá nenhuma guerra no meu tempo, terei de ser político”. Filho do oitavo duque de Marlborough, que também seguiu a carreira política, Churchill parece ter vivido não duas, mais muitas vezes. Aos 25 anos, já havia participado de três guerras, publicado cinco livros e conquistado uma cadeira no Parlamento, no qual permaneceria de 1900 e 1955. Como militar, ajudou a desenvolver a aviação de combate, foi piloto e formou a Força Aérea britânica, além de ter encorajado a criação dos primeiros tanques de guerra. Como ministro do Interior, refromou o sistema prisional, criou leis que instituíram o seguro-desemprego e a coparticipação dos trabalhadores nos lucros das empresas. Investiu em melhorias na saúde e na educação mesmo diante de limitações orçamentárias.
Responsável por uma batalha perdida para os turcos durante a Primeira Guerra, foi rebaixado a um batalhão, na França, de onde escreveu para sua mulher, Clementine: “Se eu sair ileso, minha força será muito maior do que antes”. Dito e feito. Em 1919 foi nomeado ministro da Guerra e da Aviação, depois ministro das Colônias e das Finanças. Durante a Segunda Guerra, foi Primeiro-Ministro (cargo que ocuparia novamente nos anos 1950) e uniu a Grã-Bretanha em um momento de fragilidade. Acima de tudo, ele foi — e continua sendo — uma inspiração para a política e a diplomacia.
SEMPRE CITADO
Conhecido por sua sagacidade em frases lapidares, Churchill é autor de aforismos que entraram para o repertório popular mesmo quando sua autoria não é creditada.
“Sucesso é a capacidade de ir de um fracasso a outro sem perder o entusiasmo”
“Há monte de mentiras terríveis circulando pelo mundo, e o pior é que metade delas é verdade”
“Melhorar é mudar, então a perfeição consiste em mudar constamente”
“Algo bom para um homem sem instrução é ler livros de citações”
