Whindersson Nunes: internação do humorista em clínica psiquiátrica é a solução?

Procurado por IstoÉ Gente, o psicólogo Alexander Bez analisou a internação do humorista Whindersson Nunes

Whindersson Nunes
Whindersson Nunes Foto: Reprodução/Instagram

[ALERTA: este texto aborda assuntos como depressão e suicídio, o que pode ser gatilho para algumas pessoas. Caso você se identifique, tenha depressão ou pensamentos suicidas, procure apoio no Centro Voluntário à Vida pelo telefone 188]

Há algum tempo enfrentando problemas com sua saúde mental, o humorista Whindersson Nunes, de 30 anos, decidiu internar-se em uma clínica psiquiátrica no interior de São Paulo, com o objetivo de buscar um ‘tratamento adequado’.

“O humorista se internou por decisão própria e com o devido acompanhamento médico. (…) O motivo da internação é o cuidado com sua saúde, buscando o tratamento adequado para seu bem-estar”, diz a nota publicada pela Non Stop Produções Artísticas.

A empresa responsável pelo gerenciamento da carreira de Whindersson ainda ressaltou que ele “tomou essa decisão visando o cuidado integral de sua saúde”.

“Ele está muito bem e feliz com sua evolução e, em breve, estará de volta aos palcos, fazendo o que mais ama”, diz ainda o comunicado.

A nota também pede que os fãs tenham compreensão e respeito, além de respeitarem a privacidade do humorista neste momento.

Desabafo sobre saúde mental

Whindersson Nunes sempre falou publicamente que sofre com problemas de saúde mental, que incluem depressão e ansiedade. Além de ressaltar os impactos que a fama causou na vida pessoal dele.

Em junho de 2024, o humorista utilizou as redes sociais para fazer um longo desabafo sobre saúde mental. Nunes relatou as razões pelas quais tentou tirar a própria vida, com o objetivo de ajudar quem está na mesma situação em que ele já esteve.

“Hoje, às 20h, eu boto aqui meu relato sobre a minha única tentativa de suicídio, os porquês, onde, como, com o que, doa a quem doer”, escreveu.

Whindersson publicou um fio, em que trouxe detalhes sobre o período difícil, em que sofria de depressão. A largada da publicação foi dada com um alerta de gatilho, em que o artista garantiu que tentaria cuidar com as palavras utilizadas na sequência. Ao mesmo tempo, ele informou que tentaria ser bastante direto no relato, defendendo a intenção de ajudar.

“No fatídico dia, pra vocês saberem, eu não estava triste, não era dia de discussão no Twitter, não era dia de desabafo, era um dia normal, mas eu tava indignado com uma notícia mesmo que vi aqui no Twitter, na época era esse nome ainda”, escreveu o piauiense, deixando claro que as ex-companheiras, Luísa Sonza e Maria Lina, não tiveram culpa ou responsabilidade alguma sobre o ocorrido.

Conforme a publicação, a tentativa se deu de maneira impulsiva, com o uso de uma arma de fogo de um amigo. Whindersson contou que, no momento, a arma não funcionou.

Ele concluiu o desabafo indicando aos que identificam a necessidade de ajuda, que procurem médicos especializados e terapias. “Nem todos têm condição de ficar de psiquiatra em psiquiatra. Caso você possa, encontre alguém com um olhar de cura mesmo. Desejo muito que você curta esse mundo que, além de muita podridão, tem muita coisa massa”, desejou o influenciador.

Ao final, ele acrescentou: “Minha mensagem pra você que, assim como eu, é um sobrevivente, é que depois que parei de pensar nas coisas daqui, e passei a pensar no outro plano, ficou mais fácil levar a vida, dinheiro não vai, casa, tênis, nada, muito menos o tempo que você perdeu em não usar o seu talento para ajudar alguém.”

A internação do humorista em clínica psiquiátrica é a solução?

“Cada pessoa apresenta uma sintomatologia diferente, e é fundamental respeitá-la de acordo com sua intensidade e gravidade. Esse respeito é o que determina o tipo de tratamento mais adequado. Quando uma doença não é devidamente valorizada – seja ela mental ou física, os sintomas tendem a piorar. Com o agravamento dos sintomas, o quadro de saúde do paciente também se deteriora, afetando tanto o aspecto mental quanto o fisiológico. Embora sejam chamadas de doenças mentais, a maioria delas reflete diretamente no corpo. Por isso, é essencial avaliar cada sintoma e tratá-lo conforme sua relevância”, analisa o psicólogo Alexander Bez à IstoÉ Gente.

  • Tratamento medicamentoso

Em casos de manifestações psiquiátricas, os sintomas costumam ser mais intensos, exigindo tratamento medicamentoso. A internação em uma clínica psiquiátrica está, muitas vezes, diretamente relacionada à necessidade de administração desses medicamentos de forma controlada, garantindo que o paciente possa lidar melhor com a sintomatologia.

No caso da depressão, um dos tratamentos indicados pode ser a internação psiquiátrica com medicação. Isso se deve ao fato de que a estabilização da depressão é essencial para evitar o risco potencial de suicídio.

  • Sintomatologia psiquiátrica e psicológica

É importante compreender a diferença entre sintomatologia psiquiátrica e psicológica. Quando uma pessoa atinge o limite de suportar os sintomas, ela busca ajuda em um consultório psicológico, onde a psicoterapia pode, ou não, ser acompanhada de medicação.

Em transtornos depressivos leves ou crises de ansiedade moderadas, o tratamento pode ser realizado em consultório, com ou sem o uso de medicamentos. No entanto, quando a crise psiquiátrica é intensa ou severa, a indicação é a internação. Isso ocorre porque, em um pico depressivo, o risco de suicídio é elevado, e a internação permite o controle da fase crítica por meio da administração adequada dos medicamentos.

O psicólogo Alexander Bez reforça a importância da internação voluntária de Whindersson Nunes: “Se ele optou pela internação voluntária, essa é a conduta correta. O objetivo é prevenir um possível agravamento do quadro e garantir o tratamento adequado. O grande perigo da depressão é justamente o risco de suicídio, e cada paciente pode ter uma predisposição maior ou menor a essa situação”, diz.

“Internar-se em uma clínica psiquiátrica não deve ser visto como um tabu ou motivo de vergonha. O estigma em torno da saúde mental precisa ser desconstruído. Procurar ajuda significa reconhecer a necessidade de cuidado e proteção”, afirma.

O profissional finaliza dizendo que o fato de o humorista buscar tratamento demonstra que ele ainda mantém consciência de sua condição, o que é um aspecto positivo. “Em alguns transtornos psiquiátricos mais severos, como em perfis de criminosos violentos, essa consciência pode estar ausente. No caso dele, a depressão tem uma origem identificada – um abuso infantil –, e traumas dessa natureza podem, de fato, desencadear quadros depressivos, especialmente quando há predisposição.”

Procure ajuda

Caso você esteja enfrentando alguma situação de sofrimento intenso ou pensando em cometer suicídio, pode buscar ajuda para superar este momento de dor. Lembre-se de que o desamparo e a desesperança são condições que podem ser modificadas e que outras pessoas já enfrentaram circunstâncias semelhantes.

Se não estiver confortável em falar sobre o que sente com alguém de seu círculo próximo, o Centro de Valorização da Vida (CVV) presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato. O CVV (cvv.org.br) conta com mais de 4 mil voluntários e atende mais de 3 milhões de pessoas anualmente. O serviço funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados), pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil (confira os endereços neste link).

Você também pode buscar atendimento na Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua casa, pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), no telefone 192, ou em um dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Estado. A lista com os endereços dos CAPS do Rio Grande do Sul está neste link.