SÃO PAULO, 8 OUT (ANSA) – O aplicativo WhatsApp admitiu, pela primeira vez, o envio ilegal de mensagens em massa durante as eleições presidenciais de 2018, nas quais o então candidato Jair Bolsonaro (PSL) derrotou o petista Fernando Haddad. As informações foram reveladas nesta terça-feira (8) em reportagem do jornal Folha de S.Paulo. “Na eleição brasileira do ano passado houve a atuação de empresas fornecedoras de envios maciços de mensagens, que violaram nossos termos de uso para atingir um grande número de pessoas”, afirmou Bem Supple, gerente de políticas públicas e eleições globais do WhatsApp, em uma palestra no Festival Gabo. O executivo ainda fez duras críticas contra grupos políticos acessados por meio de links responsáveis por disseminarem conteúdo político e fez um alerta para todos os usuários denunciá-los. A maioria dos endereços estão relacionados ao governo Bolsonaro.

“Vemos esses grupos como tablóides sensacionalistas, onde as pessoas querem espalhar uma mensagem para uma plateia e normalmente divulgam conteúdo mais polêmico e problemático”, afirmou Supple. “Nossa visão é: não entre nesses grupos grandes, com gente que você não conhece: saia desses grupos e os denuncie”.

Durante a palestra, o gerente do WhatsApp explicou também que a companhia desencoraja o “uso de grupos como listas de transmissão de conteúdos”. A prática geralmente é utilizada por diversos grupos de apoiadores políticos. Segundo Supple, o aplicativo de mensagens instantâneas foi criado com o objetivo de “abrigar conversas orgânicas, entre famílias e amigos”. Ainda conforme a reportagem, ao ser questionado se o uso do WhatsApp por campanhas políticas vai contra as regras da empresa, ele disse que “não viola desde que se respeitem todos os termos de uso”. Nos termos e condições do aplicativo automação e envio massivo de mensagens são vedados. “Todos estão sujeitos aos mesmos critérios, não importa se quem usa é um candidato à Presidência ou um camponês do interior da Índia”.

Supple ainda reconheceu a influência do app em processos eleitorais e revelou que a empresa chegou a acompanhar os pleitos na Índia, Indonésia e no Parlamento Europeu.

De acordo com ele, já era esperado que a disputa eleitoral no Brasil seria marcada pela desinformação, principalmente por ter sido “muito polarizada” e porque no país “muita gente usa o WhatsApp como fonte primária de informação e não tem meios para verificar a veracidade do conteúdo.

Apesar da polêmica, a empresa tem adotado diversas medidas para bloquear as contas que estão violando os termos. Ao todo, foram banidos 2 milhões de contas por mês. No ano passado, o jornal Folha de S. Paulo já havia revelado que empresas de marketing digital foram contratadas para realizar envios de mensagens políticas no WhatsApp durante a campanha das eleições presidenciais. (ANSA)