Ninguém pode negar um feito ao ministro da Educação Abraham Weintraub: num governo onde não faltam desatinos e irresponsabilidades, ele ainda conseguiu se destacar.

Como dizia Vinícius de Moraes a respeito do pato pateta, Weintraub tanto fez que está prestes a ir pra panela. Ele deve cair num futuro próximo.

O Congresso o abomina como interlocutor. O presidente da Câmara Rodrigo Maia se refere a ele com termos como “desastre” e “desqualificado”.

O Supremo Tribunal Federal considera que ele ultrapassou todos os limites ao dizer que a corte é composta por “vagabundos que precisam ir para a cadeia”.

Sua demissão é vista como um gesto necessário para reduzir – mesmo que temporariamente – a tensão entre o governo de Jair Bolsonaro e os outros poderes.

Eu não desdenharia de um outro fator levando à sua provável queda: Weintraub tem posto as manguinhas de fora.

Há poucas semanas, o ministro confrontou o chefe, querendo impedir que um cargo de sua pasta fosse entregue ao Centrão. Foi enquadrado. Neste domingo, ele se encontrou com militantes em Brasília. Enquanto o tietavam, cuspiu mais veneno contra políticos e o STF.

Bolsonaro, mais tarde, comentou o episódio: “Ele não estava ali representando o governo. Ele estava representando a si próprio. Como tudo que acontece cai no meu colo, é um problema que estamos tentando solucionar com o senhor Abraham Weintraub.” A frase revela  irritação com as novas declarações destrambelhadas, mas sobretudo com o assanhamento do subordinado.

Bolsonaro tem birrinha de ministros que, a seu ver, “representam a si próprios”. Degolou Henrique Mandetta e Sérgio Moro por causa disso. Deve ter ficado furibundo ao ver Weintraub se comportando como se estivesse num comício, mesmo que em meio a dez gatos pingados. Deve trincar os dentes ao saber que há gente cogitando lançar o ministro para um cargo eletivo, como o de prefeito de São Paulo. Weintraub com vida própria? Era só o que faltava.

Neste momento, somente os cuidados com a chamada “ala ideológica” do governo pesam contra a defenestração de Weintraub. Olavo de Carvalho, o guru de toda seita, já não anda feliz com presidente. Mandou-o fazer coisas muito feias num vídeo recente. Só o diabo sabe o que faria com a demissão do pupilo. Consta que os filhos de Bolsonaro também o pressionam a manter Weintraub onde está.

A novela não é desprovida de interesse político porque, depois de brigar com Moro e decepcionar uma parte de seu eleitorado, Bolsonaro talvez não possa mesmo frustrar os olavistas. Veremos.

E a Educação?

Nesse campo, a fidelidade de Weintraub foi absoluta.

Bolsonaro, aquele que prometeu fazer nomeações por critérios técnicos, na verdade não suporta quem de fato segue critérios técnicos, quando esses se chocam com suas vontades, crenças ou paranóias. Mais cedo ou mais tarde, o presidente expele esses agentes perturbadores da sua esfera de distorção da realidade.

Mandetta e Moro têm envolvimento verdadeiro com as áreas que comandaram. Decidiram não abrir mão da ciência, no primeiro caso, e do compromisso com a autonomia da Polícia Federal, no segundo, apenas para agradar ao chefe. Sofreram com isso.

Weintraub é diferente. Dedicou-se fielmente aos dois únicos projetos educacionais do bolsonarismo: a implantação de escolas cívico-militares e a caça ao fantasma de Marx em qualquer sala de aula onde ele possa se esconder.

Fora as encrencas, mais nada.

Ele jamais entendeu que, embora muitas tarefas de educação fiquem a cargo de Estados e Municípios no Brasil, o governo federal tem um papel importantíssimo de orientação, articulação e coordenação de políticas. Por isso é tão pernicioso ter no Ministério uma figura que repele o diálogo.

Ele abdicou de liderar o debate sobre o Fundeb, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação que precisa ser renovado até o final deste ano. Deixou que o Ministério da Economia encaminhasse a discussão com o Congresso, como se a questão fosse apenas dinheiro, e não estratégias para trazer a educação brasileira ao século XXI.

Ele não disse nada que se possa lembrar sobre os grandes temas do setor na atualidade: aumento do número de creches, num país onde apenas 14% das crianças de zero a seis anos têm acesso a elas; ampliação do ensino integral; implementação da base nacional curricular do ensino médio; fortalecimento do ensino técnico; valorização do professor.

Quando se trata dos imensos desafios da gestão educacional brasileira, o presidente não pode reclamar. O bolsonarismo não tem nada a dizer, e Abraham Weintraub é a perfeita expressão desse vácuo.

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PS: Se Weintraub cair, quem assume? Outro olavista? Alguém designado pelo Centrão? Ou um militar, “interinamente”? Por via das dúvidas, fui conferir: o Subsecretário de Fomento das Escolas Cívico-Militares no Ministério da Educação se chama Aroldo Ribeiro Cursino. É coronel do Exército.