Uma organização ambiental começou nesta terça-feira (27) a movimentar a Wanda, uma gigantesca máquina hidráulica e solar que recolhe o lixo de um rio para evitar sua chegada ao mar, em uma região de manguezais e praias tomada por dejetos lançados da capital do Panamá.

Em uma área de floresta, em Santa Maria, nos arredores da Cidade do Panamá, é possível ouvir o som da imensa roda d’água coletando garrafas de plástico, retiradas do rio Juan Díaz.

Grupos ambientalistas estimam que 30% do lixo gerado na capital não é recolhido e que aproximadamente 100 mil toneladas de resíduos são lançadas no mar todos os anos no país.

“O objetivo principal da Wanda é demonstrar que, com tecnologia, podemos tentar mitigar a poluição de plásticos nos rios”, disse à AFP Mirei Endara, ex-ministra do Meio Ambiente e presidente da associação Marea Verde, promotora do projeto.

– Somente um paliativo –

No rio Juan Díaz, uma barreira artificial detém os objetos, que são levados pela corrente até Wanda, também conhecida como Wanda Díaz. Ali, o material reciclável é separado manualmente e colocado na esteira transportadora. Através da energia hidráulica, os objetos são jogados em um recipiente para reciclagem.

A instalação também conta com painéis solares, já que a força da corrente não é suficiente para movimentar a Wanda. Um sistema de câmeras obtém, mediante Inteligência Artificial, informações sobre o lixo já classificado.

“Tudo pode passar pela esteira. Sofás, geladeiras… A transportadora é lenta, mas muito forte”, afirmou Rob Getman, responsável pela operação e manutenção da máquina, em conversa com a AFP.

Apesar de haver outras oito instalações similares em diferentes lugares do mundo, principalmente em Baltimore, nos Estados Unidos, a do Panamá é a mais moderna e a única na América Latina, segundo a Marea Verde.

“Sabemos que não é uma resposta definitiva, mas é uma medida paliativa, enquanto buscamos soluções mais concretas”, explicou Endara.

– Wanda, o resgate da Baía do Panamá-

O rio Juan Díaz é um dos mais poluídos da capital panamenha, apesar de fazer parte da Convenção de Ramsar sobre a proteção de zonas úmidas da Baía do Panamá.

A área tem uma vegetação quase impenetrável aos raios solares e alimento em abundância, além de ser um ponto vital de descanso para as aves em sua rota migratória. Mas a poluição e o crescimento urbano ameaçam o manguezal, por onde transitam anualmente até dois milhões de exemplares.

– Crise do lixo –

A Cidade do Panamá e seus arredores enfrentam uma crise na coleta de lixo, em um país onde a falta de reciclagem é evidente.

Muitas vezes, são as ONGs e as associações que organizam campanhas para limpar as praias.

“Há muitos problemas de saúde associados ao lixo que tiramos dos rios. Temos um problema pendente, e Wanda vai ajudar a criar mais consciência no Panamá”, reconheceu o ministro panamenho do Meio Ambiente, Melciades Concepción.