O Walmart está mudando sua estratégia no Brasil e vai integrar as operações de loja física com o e-commerce. Anunciada nesta terça-feira, 5, a decisão de integração representa uma guinada na estratégia do grupo, que tem até sedes separadas para os dois negócios. “Não tem jeito de a gente pensar mais o cliente de forma separada”, conclui Flávio Cotini, presidente do Walmart Brasil.

O primeiro passo deve ser justamente a unificação das equipes sob um mesmo teto. Embora fale em sinergias esperadas, Cotini evitou dar prazos para etapas típicas desses processos. União de estoques, disponibilidade de serviços como retirar produtos comprados online nas lojas ou oferta da estrutura de loja física para vendedores do site são alguns passos que concorrentes têm dado.

“Vamos olhar formas de trabalhar a integração nos próximos meses”, diz Paulo Silva, presidente do Walmart.com. Ele destaca sobretudo estratégias para o marketplace, modelo de negócios em que vendedores pagam uma comissão para negociar produtos no site da empresa. Hoje o grupo tem 4 mil desses comerciantes cadastrados. “Tudo o que o marketplace tiver como oportunidade, vamos pensar”, afirma.

Movimento parecido foi iniciado pela Via Varejo, dona das marcas Pontofrio e Casas Bahia, que incorporou o negócio online e agora trabalha para oferecer serviços logísticos e de gestão de estoque aos vendedores. Outro concorrente que já trabalha de forma integrada é o Magazine Luiza.

Questionado sobre o peso de iniciar agora uma estratégia de integração em meio aos avanços de concorrentes, Cotini diz que a companhia espera se beneficiar do “capital de marca” do Walmart.

A integração, por sinal, deve simplificar esforços de marketing da companhia. A empresa vem investindo em reforçar a marca do Walmart e tem convertido algumas lojas de marcas adquiridas, como Big e Bompreço, em Walmart.

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No online, o foco no marketplace deve até mesmo fazer com que a companhia deixe de vender algumas categorias de produtos diretamente aos consumidores (chamada de 1P). Isso significa que a empresa pode deixar de ter estoque próprio de alguns produtos e, em vez disso, ter vários outros comerciantes negociando esses itens na plataforma online. “Vamos revisitar isso, o 1P é uma visão do passado e vemos o marketplace como uma grande oportunidade”, diz Cotini.

Investimentos

O Walmart passa por uma fase de ajustes no Brasil. Até 2015, o foco da companhia vinha sendo na integração de sistemas de todas as redes compradas no passado. Em 2016, começou um projeto piloto de melhorias nas lojas, que já atingiu 15 unidades. As mudanças são tratadas na companhia como uma “reinvenção”. A marca Walmart passa a predominar e vários ajustes foram feitos na exposição dos produtos e disposição das gôndolas na loja.

Outras iniciativas envolvem a digitalização das lojas físicas. A companhia espera testar o chamado “self checkout“, em que o consumidor pode não precisar do auxílio de um caixa para finalizar a compra. No clube de compras Sam’s Club está em teste uma tecnologia de escanear produtos com o celular para já colocá-los no carrinho.

Nas transformações da rede de lojas, o plano da companhia é investir R$ 1,5 bilhão para mudar todas as 250 lojas de hipermercados e supermercados, um plano que deve durar ao todo de três a quatro anos.

Os investimentos, por sinal, são citados pela companhia para negar rumores recentes de que o grupo norte-americano teria o desejo de abandonar o Brasil. A companhia fechou dezenas de lojas, 60 delas de uma vez em 2016, mas Cotini considera que o enxugamento do portfólio de lojas foi parte de um esforço para crescer. “Para um balão subir, precisa antes jogar alguns sacos de areia”, conclui.


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