Wagner Moura desabafa sobre opressão: ‘Sou fruto das leis que incentivam a cultura’

Ator participou de coletiva de imprensa em São Paulo para falar do lançamento de 'O Agente Secreto'

Reprodução/Instagram @oagentesecreto_filme
Wagner Moura Foto: Reprodução/Instagram @oagentesecreto_filme

Wagner Moura, 49 anos, fez um desabafo a respeito do boicote às leis de incentivo à cultura no Brasil. Durante participação em uma coletiva de imprensa na Mostra SP, para o lançamento do filme “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, o ator disse ter preguiça de reforçar a obviedade da importância do investimento do país na cultura e exaltou o momento do cinema nacional.

“Estou tão cansado dessa conversa, estou com preguiça de falar disso, mas é tão ruim você ver um ataque coordenado. Eu sou fruto das leis que incentivam a cultura. Eu insisto, porque na Bahia, nos anos 1990, houve leis que possibilitaram que atores do teatro baiano, que eu, o Lázaro [Ramos], o Vladimir [Brichta], que a gente pudesse existir como artista”, iniciou ele destacando as memórias que o filme pretende deixar na cultura mundial.

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“Um país precisa se ver na sua cultura, precisa se olhar. Nenhum país se desenvolve sem se olhar, sem se ver. Quando a gente vai para fora com esse filme e as pessoas veem o Brasil, é um negócio a mais, é um bônus. Porque as pessoas lá fora também vão vendo e vão dizer ‘olha só, perna cabeluda, que coisa louca’ [referência do filme]. Eu acho maravilhoso isso. É uma imagem que a gente está levando para fora, mas, sobretudo, somos nós aqui nos vendo”, completou o artista, que no filme interpreta Marcelo, um homem fugitivo de um passado misterioso, na época da ditadura.

Wagner Moura ressaltou ainda que a caracterização de seu personagem em “O Agente Secreto ” o fez lembrar de sua infância. “Aquela camisa que ele [Marcelo, seu personagem] usa, com o peito cabeludo meio aparecendo, me lembrou muito o meu pai. Apesar de a ditadura ter acabado em 1985, os ecos ficaram ali. Eu me lembro dos meus pais falando coisas baixinho, e eu não entendia o porquê”, recordou.

Oscar 2026

Para Wagner Moura, o caminho para uma possível participação de “O Agente Secreto” no Oscar 2026 já começou. O representante do Brasil na categoria de Filme Internacional da premiação de Hollywood ganhou mais indicações, dessa vez nas categorias Melhor Atuação, com Moura, e Melhor Roteiro Original no Gotham Awards, premiação do cinema independente americano.

O protagonista do longa-metragem de Kleber – conhecido também por dirigir “Bacurau” (2019) – não hesitou ao falar da possibilidade de trazer a estatueta novamente para o Brasil. “A gente está fazendo tudo direito, mas eu acho que tem que a gente ter calma, respirar (…) quando começa a ter essas indicações de outras premiações, o Gotham, o prêmio que Kleber ganhou do Critics, o Chicago… aí eu começo a dizer que o caminho está parecendo mais real do que há duas semanas”, declarou.

Kleber Mendonça Filho complementou dizendo que estava fora do Brasil há 38 dias para participar de diferentes festivais nos Estados Unidos e na Europa. “Tenho vontade que esse filme seja descoberto por pessoas muitos jovens, que descubram no cinema algo muito interessante sobre o Brasil. Nosso país tem questões com a memória”, reforçou o diretor.

“O Agente Secreto” foi o filme mais premiado do ano no Festival de Cannes, em maio. Wagner Moura venceu o prêmio de Melhor Ator, Kleber Mendonça Filho o de Melhor Diretor e o filme levou o prêmio da crítica. O filme estreia nos cinemas no dia 6 de novembro. “O Agente Secreto” tem lançamento previsto em mais de 90 países da América do Norte, América Latina, Europa, Ásia e Oceania.

Elenco de ‘O Agente Secreto’

Aos 78 anos, Tânia Maria fez sua estreia no cinema como figurante em “Bacurau” (2019). A atriz, que dá vida a Sebastiana em “O Agente Secreto”, mandou um recado aos etaristas de plantão, que se incomodam com a sua chegada tardia ao cinema. “A idade é o que a pessoa quer. Se você quer ser velha, seja velha. Eu não sou velha. Eu costuro, sei decorar as coisas, eu trabalho, não sou velha”, exclamou a atriz, que viu em Wagner Moura um professor.

Empolgado com a declaração de Tânia, Moura complementou: “A primeira cena que eu filmei, era a Dona Tânia mostrando o apartamento para mim. Dá para ver que, na cena, eu estou só olhando para ela e pensando: que mulher incrível. Impressionado, abestalhado, apaixonado por ela”, elogiou.

Alice Carvalho, que interpreta a esposa de Marcelo no longa, falou na importância de atuar ao lado de uma atriz da geração de Tânia Maria. “Estou com 29 anos, tenho algumas amigas atrizes de 38, 40, 41, 42, muitas vezes tomadas pelo sentimento de que a carreira acabou. Que estão muito novas para interpretarem mães ou novas demais para serem filhas de alguém. É um mercado muitas vezes etarista. Para mim, tem um valor imenso estar aqui nessa sala com vocês querendo saber quem é Dona Tânia”, frisou.