Uma investigação independente liderada pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) revelou que o governo russo de Vladimir Putin fraudou os testes de laboratório antes e durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 em Sochi para beneficiar seus atletas. A revelação está sendo seguida por um apelo de dez países para que o Comitê Olímpico Internacional agora exclua a Rússia dos Jogos do Rio em todas as modalidades, e não apenas no atletismo.

Mergulhado em sua pior crise de doping, o esporte russo já foi alvo de um abalo ao ter o seu atletismo impedido de competir na Olimpíada – apenas aqueles que conseguirem provar que passaram em controles de doping fora de país é que poderão competir.

Mas, por enquanto, essa lista se limita a apenas duas atletas e ambas terão de atuar sob um bandeira “neutra” no Rio. Uma delas, Yuliya Stepanova, deixou a Rússia em 2014 e Putin a chamou de “Judas” por denunciar o esquema de doping do país. A equipe de levantamento de peso também pode ficar de fora em razão de suspeitas de doping generalizado.

Mas, agora, o informe produzido pelo advogado canadense, Richard McLaren, à pedido da Wada revela que a operação de doping foi conduzida pelo próprio governo. A investigação foi feita depois que o ex-diretor do laboratório russo, Grigory Rodchenkov, revelou ao New York Times que, durante os Jogos de Sochi, recebeu ordens para trocar as amostras de sangue e urina de dezenas de atletas. Pelo menos 15 deles ganharam medalhas.

Segundo Rodchenkov, isso ocorreu “em cooperação com o Ministério dos Esportes” e que a mesma prática foi realizada antes de Londres, em 2012, e do Mundial de Atletismo de Moscou, em 2013. Em 2015, a troca de amostras também ocorreu no Mundial de Esportes Aquáticos, em Kazan.

McLaren, em seu informe, confirmou a suspeita. “Acima de qualquer dúvida, chegamos à constatação de que o laboratório de Sochi criou um sistema de doping direcionado pelo Estado” disse. “Isso não é apenas para atletismo, mas para muitos esportes”, insistiu.

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Segundo ele, a metodologia consistia “em trocar amostras e permitir que atletas pudessem competir, mesmo dopados”.

A investigação ainda aponta que o governo de Putin “dirigiu e controlou” o esquema de doping, usando até mesmo os serviços de inteligência da ex-KGB. O especialista indicou que chegou a isso por meio de entrevistas, revisão de milhares de páginas, análises laboratoriais e testes forenses.

A ordem vinha do Ministério dos Esportes, trocando as amostras de atletas indicados pelo governo. “O governo estava envolvido nesse esquema”, confirmou.

EXCLUSÃO – As revelações prometem colocar uma pressão extra sobre o COI para que tome uma decisão se deve barrar toda a delegação russa do Brasil ou apenas os atletas envolvidos. Nos últimos meses, o presidente do comitê, Thomas Bach, indicou que precisaria encontrar “um equilíbrio entre responsabilidade coletiva e justiça individual”.

Mas agências antidoping de dez países e mais de 20 grupos de atletas prometem pedir que o COI suspenda a delegação russa completa dos Jogos do Rio, e não apenas os atletas identificados. O argumento é de que o doping era generalizado e que, hoje, não há como saber quem está limpo. Os países incluem Alemanha, Espanha, Japão, Suíça, Estados Unidos e Canadá.

Para a Associação de Agências Antidoping, a constatação da Wada é um “divisor de águas” na história do esporte. “A medida apropriada seria a de suspender a Rússia dos Jogos”, disse Paul Melia, representante do Canadá.

O governo russo admitiu que seu esporte tem problemas com o doping. Mas, nos últimos meses, insiste que jamais tratou o doping como política de estado.


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