No dia 27 de dezembro de 2014, a mineira Paola Antonini estava prestes a fazer a primeira viagem ao lado do namorado. Eles iam passar a virada do ano no Rio de Janeiro e decidiram sair bem cedo de casa, por volta das cinco da manhã, para não pegar trânsito. Ela saiu de casa com duas bolsas. Como carro estava cheio, resolveu colocar uma delas no porta-malas. Naquele momento a vida dela se cruzou com a de outra jovem que saía da balada e tinha bebido. Ela perdeu o controle do carro e prensou Paola contra o carro do namorado. Depois daquele dia, sua vida mudou.

Após o acidente, Paola foi levada para o hospital. Lá, seu maior questionamento era se morreria. Não tinha se despedido de ninguém da família, pensava. Depois de 14 horas de cirurgia e de várias tentativas dos médicos, perdeu uma das pernas. Mas a jovem transformou o que foi uma infelicidade em algo positivo. Em uma palestra que fez no TEDx afirmou que “a forma como encaramos um momento da nossa vida pode mudar tudo”.

Esse modo empolgado como vê a vida fez com que ela transformasse a dificuldade em representatividade. “A diversidade está começando a crescer mais e é muito legal a gente buscar novas inspirações. É muito importante ter figuras que inspirem a gente, que mostrem novos caminhos”, afirma. Paola decidiu, então, começar a compartilhar sua rotina de recuperação nas redes sociais. E foi um sucesso. Hoje, o Instagram dela tem mais de 2 milhões de seguidores e o canal no YouTube, mais de 200 mil inscritos. Com o sucesso nas redes, ela passou a atuar como modelo nas passarelas.

A jornalista Heloísa Rocha (Crédito: Gabriel Reis)

A vontade de mostrar mais diversidade dentro da moda também foi um incentivo para a jornalista Heloisa Rocha. Portadora de osteogênese imperfeita, ela é criadora do Moda em Rodas, perfil no Instagram que tem mais de 3 mil seguidores. Neta e sobrinha de costureira, desde muito nova, desenvolveu interesse pelo mundo da moda, o que só aumentou quando começou a cobrir a São Paulo Fashion Week por conta da profissão e percebeu que algo diferente acontecia com ela naquele ambiente. “Virava pauta do evento por ser um ponto fora da curva ali dentro”, lembra.

Vaidosa, Helô é obrigada a recorrer ao vestuário infantil, mas, independentemente disso, ela diz que consegue com busca e conhecimento montar um guarda-roupa que atenda ao objetivo de se sentir na moda. Porém, a jornalista ainda encontra dificuldades na hora de comprar roupas. Ela pontua algumas: a ausência de provadores largos e o fato de algumas lojas usarem provadores acessíveis como depósito de mercadoria. Em relação às roupas, ela afirma que a maior dificuldade está na hora de comprar sapatos. “Calço 23 e os modelos que existem no mercado são muito infantis”, comenta. Quando é assim, ela recorre aos sapateiros, mesmo com valores acima da média. Peças íntimas e trajes de banho também são uma dificuldade. “Os modelos são confeccionados para crianças que, obviamente, ao contrário de mim, não possuem busto”, afirma.

Mas a moda é inclusiva hoje em dia?

Paola acredita que a moda está mais inclusiva mesmo afirmando que ainda se está no início e muito precisa acontecer. “A marca precisa pensar que não somos iguais, cada um tem um corpo e necessidades diferentes. Seria muito legal as marcas incluírem uma pessoa mais baixa ou plus size nas campanhas”, afirma. Para Helô, “estamos longe em afirmar que a moda esteja mais inclusiva”, mas ações recentes estão fazendo o mundo da moda pensar em se tornar mais inclusivo.

Representação ou inspiração?

Ser exemplo para muitas pessoas traz alegrias e, ao mesmo tempo, uma responsabilidade imensa para essas mulheres. Paola afirma que desde o início foi muito especial a troca com os seguidores e que nunca imaginou que suas redes sociais fossem tomar tal proporção. “Pessoas me contam que tinham vergonha de mostrar suas limitações, cicatrizes e que após verem meus posts perderam a vergonha de usar biquíni, mostrar seu corpo e aceitar como ele é. É demais! Eu tento mostrar como é possível superar suas limitações e ser feliz.”

Helô diz que a aceitação de suas redes sociais é positiva e que notou que as primeiras seguidoras dela passaram a postar selfies com mais frequência. Isso porque antes elas se sentiam inseguras para isso. “Surpreendeu-me o engajamento de pessoas com nanismo e de seguidores de outros países”, conta. Mas ser exemplo também traz responsabilidades. “A palavra representatividade me atemoriza até hoje, pois sempre é minha cara que estou mostrando ao mundo e, em outras palavras, meu estilo; o que, necessariamente, pode agradar ou não”, pondera. “Espero servir de inspiração, mas nunca de representação”, finaliza.