“Nossa voz, nossa força”, sentencia Maria Sebastiana Torres da Silva, piauiense, de 59 anos, no programa Falas Femininas, que a TV Globo exibe na segunda-feira, 8, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. Agricultora e sanfoneira, ela só aprendeu a escrever o próprio nome em 2019, quando entrou em um curso de alfabetização para adultos. Quem a ajuda nesse processo de fala é a atriz e apresentadora Fabiana Karla, que comanda o programa que, ao lado de Maria e outras quatro brasileiras, de diferentes regiões, raças e profissões – Carol Dall Farra, Cristiane Sueli de Oliveira, Gleice Araújo Silva e Sebastiana dos Santos Oliveira -, reflete sobre abandono, violência e dificuldade para criar os filhos, desafios comuns a tantas mulheres.

Fabiana diz que se reconheceu nas histórias narradas pelas mulheres. “Eu vejo a representatividade das mulheres como uma grande árvore. São raízes fortes e copas frondosas, com capacidade de acolhimento nas sombras que elas geram.” Dirigido por Antonia Prado e Patrícia Carvalho, o especial faz parte do Projeto Identidade da emissora, o mesmo que produziu, no ano passado, o Falas Negras, dirigido por Lázaro Ramos.

A conversa entre Fabiana e as convidadas é entremeada com depoimentos gravados anteriormente, que mostram a vida dessas mulheres em seu cotidiano. No estúdio, a atitude de Fabiana é de acolhimento. Em determinado momento, ela instiga cada participante a falar para outra algo que “sentir do coração”. “Você não é só dor. Vou me cobrar para ter um pouco de você em mim”, diz Carol para Maria Sebastiana.

“A narrativa do programa é poética, traz a luta dessas mulheres, potencializando o que elas têm de melhor para inspirar outras pessoas. Amplificamos essas histórias. O mundo diz que elas têm de guardar suas experiências, mas nós fizemos com que elas falassem. Isso vai transbordar para quem estiver em casa”, diz Fabiana, que também está na equipe de criação do especial.

A atriz afirma que nunca sofreu nenhum tipo de machismo, assédio sexual ou preconceito, mas que tem consciência que esse tipo de comportamento sempre esteve ao seu redor. “Não posso mentir, nunca fui vítima. Se tentaram, não percebi. Tive, sim, que nadar de braçadas em várias questões. Minha militância é ser como eu sou. Sempre usei da palavra e da inteligência para inibir qualquer tipo de preconceito. Com o tempo, percebi que a minha voz amplifica outras vozes”, diz.

Fora do Se Joga, programa que apresentou ao lado de Fernanda Gentil e Érico Brás – que voltará à grade da emissora neste sábado -, Fabiana estuda duas propostas da emissora. Uma delas é para ser apresentadora. “Tenho adorado ser comunicadora. Me inspiro muito em Regina Casé, que é uma atriz e também apresentadora.” A outra, está ligada ao humor.

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Nos cinemas. Outra mulher forte na vida de Fabiana Karla, a personagem Lucicreide, estreou na quinta, 4, mas, em São Paulo, por conta da volta à fase vermelha, os cinemas fecharam hoje, 6. Em Lucicreide Vai Pra Marte, comédia dirigida pelo pernambucano Rodrigo César, a atriz vive uma empregada doméstica que, após a chegada da sogra em sua casa, quer fugir do inferno que virou sua vida. Sem saber ao certo no que está se envolvendo, Lucicreide se candidata a uma viagem a Marte.

A atriz tem um carinho especial pela personagem, criada na época em que ela estudava teatro no Recife. “A Lucicreide foi criada a partir do meu olhar para as mulheres com quem eu convivia. Ela tem um jeito meio raivoso, mas também uma ternura muito grande.”

Fabiana também é produtora do longa e diz que se emocionou ao filmar na sede da Nasa, nos Estados Unidos – apesar do medo em algumas cenas, como a que entra em um avião que simula gravidade zero. “Quando falaram ‘Lucricreide Go To Mars. Take One’, uma lágrima escorreu. Eu, com um lencinho na cabeça (parte do figurino) vendo a Atlantis atrás de mim… Foi uma aventura deliciosa.” O último filme que havia sido gravado por lá foi Armageddon, de 1998.

Antes de chegar aos cinemas, a personagem Lucicreide fez parte do programa Zorra Total, apresentado pela TV Globo entre 1999 e 2015, com direção-geral de Maurício Sherman. Nessa época, o programa foi reformulado e ganhou esquetes que exploravam críticas sociais e políticas. O novo Zorra foi exibido até o ano passado.

Fabiana não concorda que a personagem possa ser classificada em um tipo de humor ultrapassado. “Tudo tem o seu tempo. O Zorra foi um programa muito importante. O humor é um estado de espírito. A prova que Lucicreide sobreviveu é que ela está agora no cinema”, diz ainda.

A atriz também pode ser vista na reprise da novela Mulheres Apaixonadas, de 2003, no canal Viva. Na trama de Manoel Carlos, ela é Célia, a empregada de Lorena, vivida por Suzana Vieira. Foi a primeira novela de Fabiana na TV Globo. Graças ao seu talento, o pequeno papel garantiu um contrato para que ela continuasse na emissora.

“Não tinha na sinopse que a Célia era fofoqueira. Eu que fui cavando as cenas. Com isso, a personagem ganhou um rumo. Manoel Carlos sempre deu destaque para as empregadas e, com isso, revelou atrizes como eu, Juliana Paes, Carol Castro e Roberta Rodrigues. Eu gargalhava nos bastidores com a Suzana. Ela tem um jeito muito forte, firme, mas me acolheu e me ensinou muito”, conta.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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