Sempre gostei de acordar cedo em dia de eleição para curtir ao máximo a “festa da democracia”. Gosto de ir andando até a zona eleitoral, cumprimentando as pessoas na rua, observando o semblante dos paulistanos a caminho das urnas. Tem gente que gosta de levar os filhos, outros vão em casal, de mãos dadas. Outros, ainda, acompanham idosos que nem precisariam votar, mas que querem exercer seus legítimos direitos de cidadão.

Fiz isso hoje também. Estava um dia gostoso em São Paulo, uma manhã de primavera com pouco vento, sol tímido. Cheguei à escola onde voto rapidinho, em menos de quinze minutos. Eu sabia o endereço, ao contrário de Tarcísio de Freitas, que nunca morou em São Paulo e só registrou a candidatura em São José dos Campos porque conseguiu passar a perna na legislação eleitoral – um típico bolsonarista. Minha seção estava vazia. Mesárias simpáticas, duas mulheres, uma branca e uma negra, a cara do Brasil. Uma delas me pediu o título sorrindo, tirei da carteira e entreguei. Perguntei se alguém havia reclamado de deixar o celular na mesa para votar, elas responderam que não, estava tudo tranquilo. Entrei com minha cola na cabine, digitei os números, confirmei.

Tririririm.

Confesso que quase chorei quando ouvi aquele barulhinho no final. Não chorei porque estava triste com meu voto, pelo contrário. Estava emocionado porque pensei nas milhares de pessoas que não poderão votar porque estão mortas, muitas delas graças ao discurso negacionista do presidente Jair Bolsonaro.
Minha tia Carminha, de Ourinhos, por exemplo. Ela morreu no início da pandemia, mas estaria viva se a vacina que Bolsonaro lhe negou tivesse sido comprada a tempo.

Além de atrasar a compra das vacinas, Bolsonaro desprezou inúmeras ofertas da Pfizer ao longo de meses. Simplesmente não respondeu os e-mails da empresa que poderia ter salvado milhares de brasileiros. Por quê? Porque é um ser humano mau, vil. Acho incrível que as pessoas tenham esquecido o que ele fez contra a vida.

Boicotou João Doria e a vacina do Butantã, mentindo que ela não tinha sido testada, que poderia causar a morte das pessoas. Comemorou que uma pessoa havia morrido por suspeita de efeito colateral, fato que se mostrou inverídico depois. Pregou contra a vacina com a veemência de um pastor corrupto.
Disse que ela podia causar Aids. Dia após dia, live após live, mentiu sobre tratamentos falsos, sobre riscos falsos que a vacina traria – e garantiu que não tinha se vacinado, embora tenha colocado sigilo de 100 anos em seu cartão de vacinação, covarde que é.

Quase chorei ao som do “tririririm” da urna eletrônica pela beleza e simplicidade da urna eletrônica em si, uma máquina que qualquer brasileiro consegue manejar e compreender. Opositor da democracia, autoritário e virulento, Bolsonaro também pregou que elas não eram confiáveis.

Mentiu, como tem feito ao longo de toda a sua medíocre vida, disseminando notícias falsas sobre o funcionamento desse maravilhoso equipamento, que nos permite ouvir a voz do povo pouco tempo depois de encerrada a votação. Esse homem odeia a democracia porque odeia o povo.

Resumindo meu argumento, acho correto dizer que Bolsonaro é o candidato da morte. É por isso que seu símbolo é uma arma com as mãos. Não é um livro, um coração ou um sinal de paz e amor. É uma arma. Além de ser responsável por milhares das vítimas fatais da Covid por sua negligência criminosa, ele alcançou um de seus objetivos: armou a população brasileira. Hoje, segundo dados de ONGs do setor, há mais armas com civis do que com as polícias e forças armadas.

É por isso que acredito que cada morte por Covid tem a impressão digital de Bolsonaro. Cada morte por arma de fogo no País, disparada por algum desses “caçadores, colecionadores e atiradores esportivos”, eufemismo para assassinos em potencial, tem a impressão digital de Bolsonaro.

Quem vota nele ou em algum candidato apoiado por ele, também terá a impressão digital manchada de sangue.

Vote em qualquer um, menos em Jair Bolsonaro e seus candidatos da morte.

Vote pela vida. Vote pela democracia. Vote pelo futuro do Brasil.