“Olha só, a água está cristalina, agora tem até peixinho”, contava empolgada, na segunda-feira, 19, a pequena Isabelle Aguiar Coelhas, de 8 anos, diante do Córrego do Sapé, no bairro do Rio Pequeno (zona oeste da capital). Mas uma coisa preocupava o pequeno grupo de adultos que estava ao lado dela. No fim de semana anterior, tinha começado a jorrar esgoto de uma galeria pluvial que deságua no córrego. A suspeita é de que se tratava de alguma ligação clandestina.

Logo a Sabesp foi acionada e técnicos começaram a investigar, enquanto o grupo voltava a seus afazeres. Eles estavam ali cumprindo uma programação que já vem de quase dois anos. Todo mês, munidos de luvas, pequenos frascos e reagentes químicos, avaliam a qualidade da água do córrego.

São um dos 125 grupos que atuam em 98 corpos d’água das bacias do Alto e Médio Tietê e que fazem parte do projeto Observando os Rios da SOS Mata Atlântica. São os dados que eles coletam que ajudam a traçar o perfil da qualidade do principal rio paulistano. O Sapé deságua no Jaguaré, que vai para o Pinheiros e termina no Tietê.

Isabelle e a avó, Maria Ilza, faziam ginástica em uma praça à beira do córrego quando viram uma movimentação. “Pedi para vir experimentar e minha avó deixou”, diz a menina, que não se contentou em olhar. É ela e Cesar Pegorano, educador ambiental da SOS, que pulam a mureta que canalizou o córrego e descem até o seu leito para coletar água. Maria Ilza lembra que isso há até bem pouco tempo não era possível. O córrego era praticamente coberto por barracos de palafita e o esgoto corria solto, atingindo até 1,5 metro de altura.

Em 2009 começou um processo de urbanização com a construção de uma rede de esgoto, pronta no início de 2014. Hoje os dejetos não chegam mais, e a comunidade, que só via ali um grande lixão, começou a enxergar o córrego. Justamente por terem abraçado o Sapé que foram capazes de identificar a nova ameaça.

Foi mais ou menos na mesma época que a SOS convidou os moradores a participarem do monitoramento. Juntos analisam se tem cheiro e lixo ou peixes e outros organismos. Medem temperatura e os níveis de oxigênio, de coliformes fecais, de fosfato, nitrato, o nível de acidez da água e de turbidez. Na primeira medição, a análise indicou qualidade péssima. Na segunda-feira, mesmo com o vazamento, ficou no limite entre o regular e o bom. A comunidade ficou orgulhosa.

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Aula prática

Em outro canto da cidade, alunos do colégio Augusto Laranja, na zona sul de São Paulo, fazem o mesmo processo em uma realidade bem distinta, o Córrego Água Espraiada, que corta a Avenida Roberto Marinho e hoje fica embaixo das obras do monotrilho. Os alunos do ensino médio foram levados pela professora de Química Luciana Carvalho Serrasqueiro para testar na prática os ensinamentos teóricos. Logo entraram na jogada os professores de Biologia, de Geografia e de Matemática (para analisar os dados) e virou um projeto interdisciplinar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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