São vários os fatores que possibilitam atletas de elite prolongarem suas carreiras e conseguirem manter um bom desempenho mesmo depois dos 35 anos. Segundo o fisiologista esportivo Luis Felipe Polito, doutor em Treinamento Esportivo e pós-doutorando em Carga de Treinamento pela Universidade de Estocolmo, na Suécia, além da rotina adequada de sono e alimentação, uma preparação bem feita, com o volume de treino correto, é fundamental. Ele ressalta também a individualidade biológica de cada jogador.

Nesse cenário, o mais importante, segundo o educador físico, é o processo de recuperação do atleta a cada partida. Se esse processo for bem planejado e executado, o futebolista sentirá menor desgaste físico ao longo de sua carreira, evitará lesões e terá mais chances de postergar a sua aposentadoria. “Os atletas mais bem treinados são aqueles que foram submetidos a melhores estratégias de recuperação”, avalia.

E ao contrário do que muitos pensam, o fisiologista aponta que, desde que haja um volume de treinos adequado, a musculatura do jogador não se enfraquece com os anos, mas sim se fortalece.

“Ao longo da carreira, o músculo de um jogador fica com várias microlesões, mas ele se regenera por meio de células específicas do organismo. Então, a longevidade depende muito da regeneração dos músculos. As pessoas tendem a entender que um músculo muito lesionado vai ser fraco e ruim ao longo da vida, mas a teoria do treinamento diz o contrário. Com o devido controle de carga e treinamento, a musculatura ficará mais forte e adequada para ser submetida a novos modelos de treinamento”, explica Polito, que trabalhou como fisiologista em clubes como São Paulo e Oeste.

“A musculatura mais requisitada, no caso do futebol os músculos inferiores, não vai sofrer prejuízos deletérios. Será saudável. Normalmente, os músculos mais ativos são mais beneficiados”, elucida Polito.

Polito salienta que, com o avanço da fisiologia esportiva e da medicina no esporte, a idade avançada de um jogador não é um impeditivo para que ele tenha rendimento satisfatório em campo. No entanto, a ciência mostra que após os 30 anos os atletas começam a apresentar declínio físico, o que pode ser compensado pelo talento.

“Dependendo da característica do atleta, às vezes ele consegue até, por ter muita qualidade técnica e tática, reduzir o declínio físico que não é um impeditivo, mas aparece a partir dos 30, 32 anos de idade, quando se começa a perder força e resistência cardiorrespiratória. O Ronaldo foi um exemplo disso. Ele usava a técnica acima da média para minorar suas limitações físicas”, exemplifica.

No fim, a balança é positiva e todas as atividades associadas ao futebol ao longo da trajetória de um jogador de alto rendimento trazem mais benefícios a ele do que malefícios, em que pesem as possíveis dores no joelho e em outras partes do corpo.

“Os atletas de elite acumulam vários benefícios provenientes de uma carga volumosa de treinamento. Dentre eles estão a melhora da oxigenação muscular e melhora dos transportadores de oxigênio”, pontua.