O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, apontou nesta segunda-feira, 9, que as reservas internacionais proporcionam uma posição privilegiada ao Brasil em relação aos pares emergentes e que a busca por explicações domésticas para o enfrentamento de um quadro internacional mais adverso tem sido uma prática em vários países do mundo. Por isso, de acordo com ele, pode ser que exista “alguma coisa para além disso”.

Além da questão das reservas internacionais no montante de US$ 350 bilhões, que levou o País a ser um credor líquido internacional, outros pontos dão base para que o diretor siga otimista, conforme explicou Galípolo, em reunião do Conselho Empresarial de Economia da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

Combate à inflação

O ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda comentou que o País está em combate contra um processo inflacionário e que é um quadro “vantajoso ou privilegiado” ante os pares.

“O Brasil foi um dos primeiros a conseguir iniciar seu ciclo de corte de juros”, justificou Galípolo. “O Brasil se enquadra nesse esforço de combate da última milha para poder reancorar completamente as expectativas e fazer a inflação voltar exatamente para o centro da meta”, completou ele.

Questão fiscal

Sobre a questão fiscal, Galípolo reforçou que a equipe econômica tem compromisso com reequilíbrio das contas públicas. Ele também enfatizou o fato de o País ter vantagens competitivas para protagonismo na transição ecológica.

“Percebemos que este é um tema que está colocado no globo todo”, comentou Galípolo, citando um projeto americano de transição e que foi comentado como algo que impõe maiores custos.

Emergentes menos atraentes

O diretor de Política Monetária do Banco Central disse ainda que a mudança no cenário global restringiu alternativas ao investidor que olha para o mundo de economias emergentes. “Muitas delas hoje se tornaram menos atrativas do que eram no passado”, comentou, durante a reunião do Conselho Empresarial de Economia da Firjan.

De acordo com ele, o Brasil compete com alguns desses países. É o caso do México, por exemplo, em relação ao ‘nearshoring’, prática de produzir perto de um mercado comprador, como é o americano.

O diretor também citou o friendshoring – de mercados amigáveis – como uma vantagem doméstica para fornecer para cadeias produtivas. “O Brasil pode e deve se colocar como um polo de atração de investimento até porque, do ponto de matriz energética e de sustentabilidade, reúne uma série de características que permite essa transição com um custo inferior”, argumentou.

Essa atração de investimentos para o Brasil, conforme Galípolo, aconteceria por meio de duas pernas. Uma é por meio do “diferencial de carry” e outra por meio de atração de investimentos físicos. Essas questões, de acordo com ele, passam muito pela volatilidade e o patamar do câmbio. “O mecanismo de transmissão para essa taxa de juros mais alta nos EUA se dá pelo câmbio”, disse.

Espaço no diferencial de juros do Brasil

Segundo o diretor, ainda existe espaço no diferencial de juros do Brasil, o que permite novos cortes na Selic.

Ele salientou que o mercado tem feito cenários de câmbio e de seus impactos na inflação e disse que o Comitê de Política Monetária (Copom) está ciente de que juros e câmbio impactam possibilidades de desenvolvimento do País. “Queremos juros e câmbio estáveis e duradouros que possibilitem o desenvolvimento.”