O presidente Jair Bolsonaro continua a descumprir fervorosamente as promessas de campanha. Em 2018, afirmou que aboliria o que chamava de “velha política” e cortaria o número de ministérios dos 26 do governo do presidente Michel Temer para 15. Em vez disso, está negociando o aumento de ministérios com partidos aliados e inchando a máquina do Estado em troca da aprovação de pautas que interessam ao governo, como a reforma da Previdência, no tradicional sistema do “toma lá da cá”. No início da semana, o presidente não só abraçou os velhos métodos da negociação política, como confirmou a recriação de dois ministérios: das Cidades e da Integração Nacional. Assim, o governo contará com 24 pastas.

“Vão ser recriados o Ministério das Cidades e o Ministério da Integração Regional” Fernando Bezerra Coelho,senador (MDB-PE), após reunião com Jair Bolsonaro (Crédito:Jefferson Rudy)

A novidade foi anunciada na terça-feira 7 pelo senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), depois de uma reunião com o Ministro da Economia Paulo Guedes. “Ficou decidido que o Ministério de Desenvolvimento Regional vai ser desmembrado e vai ser recriado o Ministério das Cidades e o Ministério da Integração Regional”, disse Bezerra Coelho, de bom humor. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre também se mostrou feliz, pois acalentava havia meses o retorno do Ministério das Cidades, com suas verbas polpudas e milhares de cargos. Nesse ministério, durante os governos Dilma e Temer, estava pendurado o programa “Minha Casa, Minha Vida”, que era uma moeda de barganha do governo para atender prefeitos e governadores aliados.

Lógica política

É bem verdade que uma reforma administrativa, implicando na redução de ministérios, não traz tanta economia assim aos cofres públicos, como se imagina. Afinal, o número de funcionários públicos federais, atualmente em 1,2 milhão, continua sendo o mesmo quando se elimina pastas, já que o funcionalismo tem estabilidade no emprego. Além disso, quando o governo faz a reforma e simplesmente funde órgãos, como aconteceu no início do governo Bolsonaro, os cargos e prédios públicos continuam exatamente iguais. Tanto assim, que Bolsonaro disse que extinguiria 21 mil cargos e só cortou 159. Isso prova que a economia é mínima.

Ocorre que se convencionou na campanha eleitoral, especialmente por aqueles que defendiam uma “nova política”, que o exemplo teria de vir de cima. Foi exatamente por isso que Bolsonaro adotou o discurso de enxugamento da máquina. Agora, o presidente dá os anéis para não perder os dedos. Move-se por uma lógica política pragmática e compreensível, neste caso. Então, que a fundamental reforma da Previdência seja logo aprovada. Sem novas concessões.