Há pouco mais de duas semanas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente Michel Temer se encontraram no Palácio do Jaburu, na companhia de Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Oficialmente foram discutir saídas para a crise econômica, depois de várias entrevistas em que FHC criticou Temer por, na sua ótica, não demonstrar aptidão para liderar o País.

Passado esse encontro, eis que Xico Graziano, um dos principais assessores do ex-presidente, publica o artigo “Volta, FHC”, em que não apenas o lança candidato à sucessão presidencial, como ainda o oferece como a “solução nacional” para um mandato-tampão de 2017 a 2018, caso a chapa Dilma-Temer venha a ser condenada no TSE, num processo que será colocado em pauta por Gilmar Mendes no próximo ano – fosse em 2016, haveria a possibilidade de eleições diretas.

De Paris, FHC rechaçou qualquer possibilidade de reassumir a presidência e defendeu uma renovação geracional na política, mas parece óbvio que seu assessor Graziano não lançaria o balão de ensaio, que contou ainda com um site de apoio à ideia na internet, sem que tivesse o aval do chefe. Até porque, relatada pelo ministro Herman Benjamin, a ação no TSE, movida pelo PSDB, avança a passos largos e não há precedentes, nos tribunais eleitorais, de separação entre as contas do chefe de uma chapa e de seu vice. Por mais que existam articulações para segregar as contas de Temer e Dilma, os argumentos jurídicos ainda estão por ser criados.

Portanto, ao levantar em praça pública a bandeira “Volta, FHC”, Graziano também gritou “Fora, Temer”, revelando o desejo de traição que já toma conta de parte do PSDB em relação ao Palácio do Planalto. E isso no momento em que Temer coloca em votação, a toque de caixa, propostas que foram defendidas pelo próprio PSDB, como a PEC 241, a mudança dos currículos do ensino médio e a reforma da Previdência.

Portanto, em relação a Temer, o artigo de Graziano serviu apenas para alimentar desconfianças. E também não contribuiu em nada para pacificar o PSDB, partido em que o governador paulista Geraldo Alkcmin, maior vencedor das eleições municipais, disputa espaço com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o chanceler José Serra – este, aparentemente, o mais envolvido na delação premiada da Odebrecht.

O caminho mais sensato para os tucanos para 2018 parece ser o que foi proposto pelo governador de Goiás, Marconi Perillo: a realização de prévias amplas, e não apenas decididas pela cúpula, em que todos os postulantes à presidência, incluindo ele próprio, se apresentariam como candidatos. E o melhor que FHC pode fazer neste momento é não criar marolas desnecessárias.

Se foi um balão de ensaio, a ideia não poderia ter
sido mais desastrada, pois revela desejo de trair