Um ano após a tragédia do voo 2283 da Voepass, que caiu em Vinhedo (SP) matando todas as 62 pessoas a bordo, a IstoÉ lança o documentário ‘VOEPASS 2283: SEM CONTROLE’.
Com depoimentos como o de Adriana Ibba, mãe da vítima mais jovem, ex-funcionários da Voepass e especialistas em aviação, a reportagem se debruça sobre as irregularidades da Voepass que, penalizadas anteriormente com multas pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), já indicavam riscos que pavimentaram o caminho para o desastre.
No documentário, você verá:
Entrevistas exclusivas com familiares das vítimas, que compartilham a dor da perda e a busca por justiça.
O parecer técnico, com declarações de um especialista em segurança aérea e de um piloto de aviação executiva, que analisam os fatores operacionais e humanos do desastre.
Entrevista com o assistente de acusação dos familiares das vítimas, que detalha a busca por responsabilização criminal.
Relatos de quem vivenciou a rotina da empresa, como o de um ex-copiloto da Voepass e de um ex-mecânico que atuou na companhia por cinco anos, expondo as falhas de manutenção e a cultura de insegurança.
Imagens atuais dos aviões no pátio da Voepass em Ribeirão Preto.
Assista abaixo:
Sinais ignorados
A narrativa, inicialmente focada nas investigações técnicas e criminais do último ano, encontra seu ponto crucial na questão central levantada por Adriana: “Por que a ANAC só agiu após a tragédia?”.
Para responder, a equipe IstoÉ foi até a sede da Voepass, em Ribeirão Preto, com o objetivo de mostrar o estado atual da empresa. No local, foram encontrados aviões ainda com a pintura da companhia, embora não mais operados por ela. Conversas com funcionários do pátio e do aeroclube revelaram que parte das aeronaves, locadas pela empresa, foram recuperadas pelos proprietários em condições precárias.

Precariedade na área interna de aviões da Voepass foi relatada à IstoÉ, com imagens, por fontes
Ex-funcionários da empresa ouvidos pela reportagem expuseram problemas graves, como ameaças de demissão a quem denunciava irregularidades. Os depoimentos explicam as falhas na fiscalização da Anac e na gestão da Voepass, que operou 2.687 voos com aeronaves sem manutenção adequada mesmo após o desastre que matou 62 pessoas em Vinhedo, São Paulo.
“Tudo era feito na correria, sem um plano de ação para os inúmeros problemas”, disse à reportagem um ex-mecânico da companhia, sob condição de anonimato.
O copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva, de 61 anos, vítima do acidente, já havia alertado sobre problemas na frota da Voepass em um áudio recuperado de seu celular e divulgado após a tragédia.
“Esses aviões estão fadigados (…) a frota precisa ser modernizada. Chegou a um ponto que fica inviável. Não é nossa responsabilidade, mas a gente vê as coisas com bom-senso. Só resta torcer para que tenham essa consciência”.
A queda
O ATR-72 da Voepass, de matrícula PS-VPB, decolou de Cascavel (PR) às 11h58 de 9 de agosto de 2024, com 58 passageiros e quatro tripulantes, rumo a Guarulhos (SP).
Durante o voo, enfrentou condições severas de gelo, com múltiplos alertas emitidos e o sistema de degelo acionado e desligado repetidamente.
Às 13h21, a aeronave entrou em estol, perdeu o controle e caiu em “parafuso chato”, despencando 17 mil pés em menos de dois minutos até colidir com o solo em Vinhedo (SP), às 13h22. Todas as 62 pessoas a bordo morreram.
O relatório preliminar do CENIPA, divulgado em 6 de setembro de 2024, apontou que o ATR-72 perdeu o controle em condições de gelo severo.
Apesar de a aeronave ter certificação válida e os pilotos serem treinados para tais condições, com o sistema de degelo acionado três vezes, as causas definitivas não foram concluídas, e a investigação segue analisando fatores humanos, técnicos e materiais.
Lito Souza, ex-mecânico de aviação e criador do canal Aviões e Músicas no YouTube, explicou à IstoÉ que acidentes aéreos são multifatoriais, e apenas o relatório final do Cenipa esclarecerá todos os motivos envolvidos.
Ele destaca, porém, que as três maiores companhias aéreas brasileiras mantêm altos padrões de segurança (a Voepass era a quarta maior até a tragédia), e considera o acidente um caso isolado, reforçando que as irregularidades apontadas não comprometem a segurança da aviação no Brasil.
O que dizem CENIPA, ANAC, LATAM E VOEPASS
O CENIPA informou à IstoÉ que analisa evidências do acidente, sem previsão para o relatório final.
A ANAC confirmou suspensões e multas à Voepass, mas não respondeu sobre eventuais falhas na fiscalização.
A LATAM, que vendia passagens do voo via codeshare, negou relação atual com a Voepass e disse ter informado passageiros sobre a operação.
A Voepass disse apoiar as famílias, colaborar com as autoridades e afirmou que, em 30 anos de atuação em um setor “altamente regulado”, sempre operou dentro dos padrões exigidos. A IstoÉ também tentou contato presencial na sede da empresa, mas os departamentos responsáveis foram encerrados.