O presidente Jair Bolsonaro reagiu de forma agressiva ao ser questionado pelos jornalistas na saída do Palácio da Alvorada sobre as investigações que atingem seu filho, o senador Flávio Bolsonaro quando era deputado estadual.

“Você tem uma cara de homossexual terrível. Nem por isso eu te acuso de ser homossexual. Se bem que não é crime ser homossexual”, disse Bolsonaro ao ser questionado por um repórter o que faria se o filho dele tivesse cometido algum deslize.

Ele acusou o Ministério Público de proteger o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), e afirmou que “pelo que parece” uma filha de Itabaiana é funcionária “fantasma” no governo do Estado.

O presidente afirmou que “pelo que parece” Natalia Menescal Braga Itabaiana Nicolau, filha do juiz responsável pela quebra de sigilos dos ex-assessores de Flávio, é “fantasma”. “Você já viu o MP do Estado do Rio de Janeiro investigar qualquer pessoa, qualquer corrupção, qualquer gente pública do Estado? E olha que o Estado mais corrupto do Brasil é o Rio de Janeiro. Vocês já viram? Vocês já perguntaram pro governador Witzel porque a filha do juiz Itabaiana está empregada com ele? Já perguntaram? Pelo que parece, não vou atestar aqui, é fantasma. Já foram em cima do MP (para) ver se vai investigar o Witzel?.”

Bolsonaro criticou a decisão de abril em que Itabaiana quebrou o sigilo de 86 pessoas e nove empresas ligadas ao antigo gabinete de Flávio na Alerj, disse que foram cumpridos mandados de busca e apreensão em casas de pessoas que “não tinham nada a ver” e rebateu as acusações de que o seu filho teria lavado dinheiro em uma loja de chocolate.

“Acusaram ele (Flávio) de estar ganhando mais na casa de chocolate. O que acontece, quem leva mais cliente para lá, ele leva um montão de gente importante, ganha mais. É mesma coisa chegar para o, deixa eu ver, o Neymar e (perguntar) “por que está ganhando mais do que outros jogadores?”. Porque ele é o mais importante. Não é comunismo”, disse Bolsonaro sobre o filho primogênito.

O presidente insinuou que há conluio entre Witzel e a mídia para prejudicá-lo. A ideia, segundo Bolsonaro, seria favorecer campanha do governador para disputar o Planalto em 2022.

Bolsonaro disse que não pode “provar”, mas que uma gravação falsa foi elaborada para o atingir quando veiculada em telejornal. “Estavam acertados diálogos entre bandidos do Rio de Janeiro citando meu nome. ‘Ele vinha aqui, buscar dinheiro, agora não vem mais.’ Esses são os diálogos. Ia ser colocado na Globo à noite, exclusividade, como eu ia me justificar?”, disse Bolsonaro. “O governador (Wizel) quer ser presidente, e é direito dele ser presidente, mas não nesse jogo sujo que está aí”, declarou.

Filho inocente

Perguntado se considera Flávio inocente, Bolsonaro disse: “Eu não sou juiz”. Em seguida, emendou: “Eu não sou juiz. Sem problema comigo. Quer botar manchete lá, presidente considera filho…”

Na sequência, Bolsonaro afirmou que há suspeitas de “movimentação atípica” sobre vários deputados estaduais do Rio. “Na Alerj, vários parlamentares, via algum assessor, tinha movimentação atípica. Flávio é o 17º (da lista de deputados com suspeitas). Vocês já fizeram matéria sobre o “01” da Alerj? Não fizeram, poxa. É aliado do Witzel, inclusive. É do PT. Foi eleito presidente da Alerj, não tem uma linha contrária de vocês. Com 50 milhões de reais. Se alguém desviar 1 real, é culpado.”

Essa foi a primeira vez que Bolsonaro falou sobre a nova fase da investigação envolvendo seu filho Flávio. Desde o estouro da operação, na quarta-feira, o presidente já se reuniu com o filho e o advogado de Flávio, Frederick Wassef, algumas vezes.

Na quarta, Bolsonaro evitou os jornalistas. Na quinta-feira, ao ser perguntado sobre o caso, disse que falaria sobre os seus problemas, mas que, “dos outros”, não tinha nada a ver com isso.

Segundo o UOL, o presidente criticou o trabalho da imprensa e evitou responder sobre o comprovante do empréstimo que fez para Fabrício Queiroz. No ano passado,  o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou um repasse de um cheque de R$ 24 mil para a primeira-dama Michelle Bolsonaro. “Pergunta para a tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai, está certo? Querem comprovante de tudo”, disse Bolsonaro que reafirmou que o dinheiro era pra ele.

O presidente ainda defendeu o ex-assessor do filho. “Conheço o Queiroz desde 85. Pescava comigo”. No entanto, Bolsonaro disse que caso ele tenha cometido algum erro, “que responda pelos atos”.

Com dedo em riste, o presidente também mandou jornalistas “ficarem quietos” mais de uma vez.

O presidente cobrou respostas dos repórteres sobre pontos da investigação do MP. “Uma pergunta: o processo é segredo de Justiça ou não é? Respondam. Respondam, porra!”, afirmou, elevando o tom de voz.

Minutos antes de falar sobre Flávio, o presidente reagiu com ironia sobre transferir ou não a embaixada brasileira para Jerusalém, medida que desagrada países árabes. “Você pretende se casar comigo um dia? Não seja preconceituoso. Não seja… você não gosta de louro de olhos azuis? Isso é homofobia. Vão te processar por homofobia”, disse a um jornalista.

As respostas de Bolsonaro foram acompanhadas por gritos de “mito” e ofensas à imprensa feitas por seus apoiadores, que o aguardavam em frente ao Palácio da Alvorada.