Você sabe muito mais coisas do que eu.

Sempre vai saber, não tem jeito.

Porque escrevo esse texto nas tardes de terça-feira.

Esse que você está lendo foi escrito em 3 de julho de 2018.

Já você, é bem provável, estará lendo na sexta-feira dia 6, que é quando a ISTOÉ chega às bancas.

Esse pequeno intervalo de apenas três dias não deveria ser tão importante.

Mas, no mundo de hoje, é uma eternidade.

Dizem que o jornalismo trabalha com ciclos de notícias de 24 horas.

Bobagem.

Num mundo que tem Trump, Lula, Bolsonaro, Gilmar Mendes, os ciclos de notícias são medidos em segundos.

Por isso, aí no futuro, você sabe muito mais do que eu.

Sabe se o STF aprontou mais alguma na semana que vem pela frente para mim e que já passou para você.

Talvez você não seja o leitor da sexta-feira.

Nem da semana que vem.

Talvez você seja um leitor ainda mais adiantado no futuro.

Você pode, quem sabe, ter encontrado esse exemplar na sala de espera do seu dentista, no fim de agosto.

Nesse caso, você já saberá se Lula pode concorrer à eleição.

Aqui no passado, dizem que é impossível.

Dou risada.

Como se houvesse alguma coisa impossível no Brasil.

Basta que a varinha de condão do nosso Judiciário seja agitada e plim! Lula vira candidato.

O impossível, no Brasil, é só uma questão de veredito.

Quanto mais no futuro você estiver, mais desinformado eu serei.

A indústria da futurologia, aliás, deu margem a uma infinidade de pseudociências, filmes e livros.

Conhecer o futuro é um dos desejos mais primitivos do homem.

Da previsão do tempo às oscilações da Bolsa de Valores.

Quem dera você pudesse responder às minhas dúvidas cotidianas com suas informações privilegiadas.

Coisas que sou obrigado a esperar pacientemente pelo arrastado desenrolar das horas.

Quem sabe você é um leitor mexendo numa pilha de revistas velhas na casa de seu avô, em 2023.

É possível, afinal revistas sobrevivem por décadas.

Você pode ser um historiador preparando um estudo que explique o governo desastroso que Bolsonaro nos brindou nos últimos — para mim próximos — quatro anos.

Quem sabe você é um jornalista estrangeiro tentando entender como o governo Ciro Gomes conseguiu transformar o Brasil numa potência.

Ou você pode ter vindo consultar, aqui no passado, por que os índices de violência durante o período do presidente Alckmin continuam os mesmos.

Você poderá encontrar esse texto num sebo daqui a 20 anos.

Numa feira de antiguidades em 50.

Numa escavação arqueológica daqui a 500

Aí no futuro, você já deve saber que os 33 doleiros, que com suas mais de 3 mil contas correntes achacaram nosso País por anos, foram finalmente condenados.

Mas seu vasto conhecimento não se limita apenas ao Brasil.

Amplia-se por todo o mundo.

Trump chegou ao final de seu mandato?

O casamento do Príncipe Harry segue firme?

E o Putin? Pirou de vez?

Você sabe tudo.

O fato é que eu, prisioneiro do passado, trocaria qualquer coisa por uma única pergunta sobre o futuro.

Uma pergunta que me faria um pouco mais feliz.

Que aliviaria essa angústia que trago no peito.

Aposto que você imaginou uma bobagem do tipo “o resultado da mega-sena”.

Que nada!

Isso aqui é uma revista séria, engajada naquilo que importa ao País.

Minha pergunta seria sobre Cultura.

Esportes, mais especificamente.

Quero saber se o Brasil ganhou da Bélgica.

Porque aqui no passado, cansado de toda essa palhaçada, é o que mais me interessa.

Ganhou? Hein? Hein?