As expressões vacina e cobertura vacinal invadiram nossos ouvidos e universo emocional nos últimos tempos devido à Covid-19 – e, deixemos claro, é graças à vacinação que o novo coronavírus vem sendo derrotado no Brasil e em diversos países. Não fossem elas, as vacinas, e todos nós estaríamos irremediavelmente perdidos, ainda mais em um País no qual o presidente da República faz de tudo para levar as pessoas incautas ou desinformadas a acreditarem que imunizantes prejudicam a saúde. Assim, também ouvimos falar exaustivamente sobre negacionismo e movimento antivacina. Pois bem, são nesses pontos que precisamos nos fixar, uma vez que a perniciosa atuação de tais grupos e seu perigoso crescimento colocam o Brasil sob a ameaça de ter, novamente, casos graves de enfermidades, algumas delas erradicadas.

O País já foi exemplo ao mundo em seu modelo de imunização, mas, atualmente, ao que se assiste é que esse modelo, a duras penas construído e sedimentado, está sendo destruído pela ignorância daqueles que consideram que imunizantes fazem mal ao organismo dos pequenos e adultos. Um exemplo trágico é o da poliomielite (paralisia infantil). Ela está erradicada em praticamente todo o planeta, e no Brasil o último caso registrado foi em 1984. A cobertura vacinal contra a poliomielite, no entanto, vem despencando no Brasil e, agora, volta a preocupar. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Imunizações, a cobertura que em 2012 atingia 96,55% das crianças recuou para 67,71% em 2021.

Nessa mesma situação encontra-se a proteção fornecida pela vacina tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba). Ela apresentava excelente cobertura de 107% em 2013. Houve, porém, queda para 86% em 2017 e, no ano passado, caiu mais ainda e ficou somente na arriscada casa dos 71%. Nada diferente ocorre com a vacina pentavalente (coqueluche, hepatite B, tétano, difteria e bactéria Haemophilus influenza B). Nos mesmos anos referidos acima, a sua aplicação seguiu essa perigosa involução: 96%, 84% e 68%. Voltando à poliomielite, atualmente somente 67% das crianças brasileiras estão vacinadas contra essa doença.

Ainda que o Brasil esteja atravessando momentos difíceis de cortes orçamentários, é inegável que a área da saúde somente surge na boca daqueles que pleiteiam mandatos, mas morrem se eventualmente tais postulantes são eleitos. Com Jair Bolsonaro isso chegou à temperatura máxima: não mais que minguados R$ 33 milhões foram investidos em programas de vacinação. Diante desse quadro, é saudável que o Ministério da Saúde deixe de misturar ideologia com ciência, porque o preço dessa irresponsabilidade se traduz em doenças que podem ser incapacitantes ou em perda de vida humana.