ORIENTAÇÃO Em Wuhan, na China, passageiros são guiados e recebem a refeição antes do embarque (Crédito:Cheng Min)

O novo coronavírus, que por meio de aeroportos e de viagens aéreas se disseminou em todo o mundo, deixará suas marcas durante um longo tempo na experiência de voar. Enquanto sair de casa para ir à esquina já virou uma espécie de via crucis devido aos cuidados de segurança que devem ser tomados para não contrair a doença, viajar para outras cidades e países recebeu precauções multiplicadas. Na semana passada, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou novas medidas para a aviação brasileira. As normas vêm ao encontro daquilo que o Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças (ECDC) recomendou para a Agência de Segurança da Aviação da União Europeia.

Animadas aglomerações nas praças de alimentação e despedidas calorosas nos corredores dos aeroportos brasileiros, por exemplo, estão fora de cogitação porque tanto funcionários quanto clientes devem manter uma distância de pelo menos dois metros entre eles. Aquela bagunça de praxe na área do embarque também virou coisa do passado. Além do espaçamento mínimo entre as pessoas, algumas companhias estão adotando procedimentos automatizados, nos quais o próprio passageiro realiza o seu check-in e despacha suas malas. As bagagens de mão estão mais limitadas e há álcool gel por toda parte. Como não poderia deixar de ser, as máscaras devem ser usadas por todos, tanto em terra quanto no ar.

Menos conforto

Algumas comodidades que tornavam as viagens de avião prazerosas para muita gente também deixarão de existir. As agências sanitárias recomendaram a suspensão de salão de beleza e massagens, salas vip e até das lojas “duty-free”. O serviço de bordo também recebeu instruções e, em viagens mais longas, as refeições devem ser servidas em embalagens individuais previamente higienizadas. Algumas empresas europeias encontraram como alternativa entregar antes do embarque na aeronave uma sacola plástica com a refeição, a mesma onde o lixo fica armazenado até o término do voo. A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), por sua vez, analisa que o procedimento seja dividido em fases para que as pessoas comam em momentos diferentes. Passageiros que voaram recentemente em aéreas americanas receberam um sanduíche frio e uma opção de bebida. Ou seja: nada das antigas mordomias como sucos, refrigerantes, vinhos e cervejas.

Ir ao banheiro deixou de ser um ato livre. Antes de se levantar da poltrona, é preciso chamar os comissários de bordo e pedir autorização, assim se evita a formação de filas no corredor. Uma das questões mais complexas para as companhias é manter assentos vazios durante o voo para distanciar os passageiros uns dos outros. Apesar de algumas empresas já adotarem esse procedimento, a IATA o rejeita com o argumento de que outros fatores garantiriam a proteção dos viajantes, como os filtros potentes do ar-condicionado das aeronaves modernas. A questão é complicada porque, para compensar o seu custo, uma viagem deve ter pelo menos 75% dos lugares vendidos. Manter o espaçamento recomendado só permitiria a venda de até 67%.

Por outro lado, a diminuição das comodidades para os passageiros bem como do atendimento por funcionários acabam sendo positivos para as aéreas cortarem custos, uma vez que elas estão sufocadas com a suspensão dos voos e os fechamentos das fronteiras causados pela pandemia. Além de perderem valor de mercado, deixarão de arrecadar esse ano cerca de US$ 113 bilhões em receitas. Aos poucos, algumas regiões retomam suas viagens, mas o impacto da Covid-19 traz consigo uma turbulência que transformou para sempre o ato de viajar.

PREVENÇÃO Aeroporto no Japão conta com medição automatizada de temperatura para monitorara saúde dos passageiros (acima). Espaçamento mínimo entre os viajantes e equipamentos de proteção já fazem parte da rotina nos portões de embarque