O presidente do Peru, Martín Vizcarra, enfrenta nesta sexta-feira (18) um julgamento político que pode tirá-lo do poder, em um contexto de crise que mantém o país na incerteza, em meio à pandemia do coronavírus e à recessão econômica.

O popular presidente corre o risco de ser destituído pelo Congresso, dez meses antes do término de seu mandato, e de ter um destino semelhante ao de seu antecessor Pedro Pablo Kuczysnki (2016-2018), que também não foi capaz de completar seu mandato por ser forçado a renunciar sob pressão do Parlamento.

Vizcarra é acusado de instigar duas assessoras a mentirem em uma investigação sobre a contratação de um cantor.

Na quinta-feira (17), o Tribunal Constitucional rejeitou uma medida cautelar solicitada por Vizcarra para suspender o julgamento.

A juíza Marianella Ledesma destacou que o tribunal não concedeu a medida cautelar, porque “o risco de vacância diminuiu”, sinal de que os inimigos de Vizcarra não teriam votos para destituí-lo.

Vizcarra, que designou o advogado Roberto Pereira Chumbe para defendê-lo no julgamento do Congresso, denunciou “um complô contra a democracia”.

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O engenheiro de 57 anos tem grande popularidade desde que assumiu o poder em 2018, após a renúncia de Pedro Pablo Kuczynski, do qual era vice-presidente.

Não há lutas ideológicas nessa polêmica, já que tanto o presidente quanto a maioria parlamentar são de centro-direita.

Também não estão em discussão os grandes problemas do Peru – a pandemia do coronavírus e a recessão econômica. Parece apenas se tratar de uma disputa pelo poder, na qual a situação com o cantor é somente um pretexto.

Em pesquisas, redes sociais e ruas (com panelaços), já foi possível compreender o apoio a Vizcarra: oito a cada dez peruanos querem que ele permaneça à frente do Executivo, segundo pesquisa da Ipsos.

Esse processo lembra duas iniciativas semelhantes contra seu antecessor Kuczynski (2016-2018), que levou à renúncia do ex-banqueiro, também no contexto de batalhas com o Congresso.

“A rapidez com que este processo está sendo realizado reflete uma crise das instituições, o que desacredita ainda mais o sistema democrático perante o povo”, comentou à AFP o analista político Augusto Alvarez Rodrich.

Se for destituído, o chefe do Congresso, Manuel Merino, político discreto quase desconhecido dos peruanos, assumirá as rédeas do país. O mesmo aconteceu com Vizcarra, quando tomou posse como presidente, em 23 de março de 2018.

A sessão plenária que vai decidir seu futuro foi marcada para as 9h locais (11h de Brasília), uma semana depois de o Parlamento ter aprovado o processo por 65 votos a favor, 36 contra e 24 abstenções.

Após as argumentações, os legisladores debaterão antes de votar a destituição.


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