Passado o momento do luto mais pesado, o ator e diretor Marcelo Drummond começa a trabalhar em acervo valioso: os escritos deixados pelo encenador José Celso Martinez Corrêa, que morreu tragicamente em julho, quando um incêndio destruiu seu apartamento, em São Paulo.

“O primeiro trabalho é limpar a fuligem que ficou em cima de tudo”, conta Drummond, que também vivia em um dos dois apartamentos atingidos pelo fogo, que provocou a morte do encenador de 86 anos. Ele participou nesta quinta, 23, de um debate sobre o teatro de Zé Celso e de Pagu, em um evento paralelo à programação oficial da Flip, em Paraty.

Segundo Drummond, que pertence ao grupo do Teatro Oficina desde 1986, cerca de 80% do material escapou das chamas.

“O Zé era muito organizado e tinha noção da importância de seu trabalho, por isso preservou com cuidado seus originais”, afirma Drummond, que só conseguiu voltar ao apartamento um mês e meio depois do acidente provocado provavelmente por um problema envolvendo um aquecedor elétrico que ficava no apartamento do artista.

Drummond, que agora coordena o Teatro Oficina, já notou uma variedade de documentos. “Há textos de peças encenadas ao longo dos anos, especialmente dos anos 1990 para cá. Zé Celso também traduziu peças de autores clássicos que agregavam conceitos que reforçavam o seu teatro. Há desenhos de como ele já pensava na encenação.

O ator descobriu também reflexões críticas sobre teatro, pensamentos especialmente sobre a dificuldade de se fazer teatro no Brasil. Finalmente, há uma coleção de prêmios e troféus conquistados ao longo de décadas. “Zé Celso criou um estilo cênico que não existia no Brasil e, apesar do descrédito de outros artistas e da imprensa, ele impôs esse estilo que hoje já é consagrado”, afirma Drummond, que terá uma reunião com representantes da Funarte, que vão classificar o material e, provavelmente, incorporá-lo ao acervo.

“Sou ator, não tenho conhecimento de organização de acervos. Mas sei que esse é essencial.”