A viúva da vereadora Marielle Franco (PSOL), Mônica Benício, vai se reunir nesta quarta-feira, 19, com representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) para pedir que a entidade pressione o governo brasileiro a dar esclarecimentos sobre as investigações relacionadas ao assassinato da parlamentar carioca, ocorrido há mais de seis meses.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Mônica também indicou que ainda vai solicitar que relatores da ONU façam viagens ao Brasil para apurar a situação. Ela está na Suíça para denunciar a situação no País e apontar que, seis meses depois da morte de Marielle, as investigações ainda não deram resultados.

“Meu apelo à ONU é para que cobre de forma mais veemente o Estado brasileiro a dar uma resposta e onde está a investigação”, explicou. “Estamos lançando uma batalha internacional para pressionar o governo brasileiro para que se dê uma resposta. Não qualquer resposta apenas para nos silenciar e dizer que algo foi feito e acabou. Mas uma resposta correta, de quem matou, quem mandou matar e a motivação do crime.”

Em março, logo após a morte da vereadora, relatores da ONU enviaram uma dura carta ao governo brasileiro dando até maio para que o Estado apresentasse um informe sobre o andamento das investigações. Brasília ignorou o pedido.

Agora, a viúva de Marielle quer que a pressão seja incrementada. Nesta quarta-feira, ela vai declarar à ONU que o assassinato foi “uma grave violação de direitos humanos” e pedirá uma ação internacional. “A morte dela fere a democracia e a coloca em cheque”, disse.

“As investigações ocorrem em sigilo. Entendendo o contexto do Brasil, é importante que seja assim. Olhamos para a história do Brasil e vemos que uma execução como a da Marielle, que envolve polícia, agentes do Estado, envolve político, tem de ser uma investigação já dificultada por si só”, disse. “Foi um assassinato muitíssimo bem executado, onde se errou muito pouco. Daí a dificuldade em se chegar a um resultado das investigações. Mas isso não é motivo para que não nos preocupemos, já que estamos há seis meses sem nenhum tipo de resposta.”

Segundo Mônica, o governo brasileiro e a Polícia Civil do Rio de Janeiro não deram nenhum sinal de que as investigações avançaram.

“No início, eu entendia o sigilo. Mas hoje é muito angustiante saber que estamos há seis meses e quanto mais o tempo passa, mais difícil será chegar aos resultados”, alertou.

Mônica disse que também passou a ser ameaçada, com um episódio de uma perseguição por um carro e ofensas de que ela seria “a próxima” e que estava “falando demais”. A Organização dos Estados Americanos (OEA) já estabeleceu medidas cautelares ao Brasil para que o governo tome iniciativas para garantir a vida de Mônica.

Mas ela conta que, desde então, o Programa de Defensores de Direitos Humanos tem a procurado para determinar os parâmetros da segurança que ela poderá ter.

“Inicialmente, eles me ofereceram fazer parte do Programa de Proteção de Testemunha. Eu obviamente me neguei, pois não sou testemunha de nada”, disse.

Em sua avaliação, a morte de Marielle foi um “recado”. “Foi uma tentativa clara de silenciar o que ela representava”, disse. “A mensagem foi clara: não queremos esse tipo de representatividade disputando poder”, apontou.

“Estamos mais de seis meses depois da morte de Marielle, sem nenhuma resposta. É uma democracia muito frágil, e esse silêncio reforça a violência, já que não conseguimos dar uma resposta a um crime”, disse. “Não é apenas pedir Justiça por Marielle. Mas dar garantias para a democracia. Quando dermos uma resposta a sua morte, estaremos dando algum sinal de que tentamos fazer a democracia existir.”

Denúncia

Nesta terça-feira, 18, entidades de direitos humanos discursaram no Conselho de Direitos Humanos da ONU denunciando o Brasil por causa da intervenção federal no Rio de Janeiro e pela incapacidade de dar uma resposta diante dos mais de seis meses do assassinato da vereadora.

Falando em nome do grupo de organizações não governamentais (ONGs), o coordenador de Dados do Observatório da Intervenção, Pablo Nunes, destacou que “o crime continua sem uma resposta”. “As autoridades fracassaram em identificar quem matou Marielle Franco e o motivo”, afirmou.

Em resposta às críticas das ONGs, a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, disse em discurso no Conselho de Direitos Humanos que o Estado tem “o compromisso com uma investigação rigorosa com o objetivo de encontrar os autores e os levar à Justiça”.

“O caso foi classificado como confidencial para proteger as identidades de testemunhas e o conteúdo de suas declarações”, justificou a embaixadora. “Uma vez concluído, os resultados serão disponibilizados às famílias das vítimas e vai instruir o caso que será submetido à Corte.”

Procurada pela reportagem, a Secretaria Estadual de Segurança do Rio de Janeiro (Seseg) informou que não iria comentar as críticas à intervenção federal na segurança pública do Estado do Rio e à demora no esclarecimento do assassinato de Marielle Franco feitas no Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Também procurado, o Gabinete da Intervenção Federal não se pronunciou até as 18h50 desta terça. /COLABOROU FÁBIO GRELLET