Vitória para o hóspede e dor de cabeça para hotéis: a disputa pelas diárias 24 horas

Coluna: Flavia Vitorino

Flavia Vitorino é jornalista e turismóloga especialista em destinos e viagens de natureza. Diretora de conteúdo do aplicativo LYFX e agente de viagens pela GO Escape.

Vitória para o hóspede e dor de cabeça para hotéis: a disputa pelas diárias 24 horas

Nova portaria promete garantir mais transparência no turismo, mas coloca em xeque a logística e os custos da hotelaria brasileira

Imagem de hóspede em hotel para a coluna de Flavia Vitorino
Foto: Flavia Vitorino

Poucas experiências em uma viagem são tão universais quanto a sensação de chegar cedo a um destino, depois de horas de estrada ou de voo, e ouvir no balcão do hotel a frase seca: “O check-in só é a partir das 14h”. Da mesma forma, quase todo viajante já se viu obrigado a deixar o quarto às pressas, ainda com vontade de aproveitar a manhã, porque a diária terminava ao meio-dia. É nesse espaço entre a expectativa do turista e a conveniência do hotel que nasce a polêmica das novas regras sobre as diárias.

O Ministério do Turismo determinou que a hospedagem deve equivaler a 24 horas, com até três horas reservadas para arrumação e higienização do quarto. A medida, que parece uma vitória para os viajantes, levanta questionamentos imediatos: será que os hotéis terão condições de cumprir essa exigência sem repassar custos? E, mais do que isso, será que o hóspede realmente terá a sensação de estar ganhando tempo?

Lembrei de uma viagem em que cheguei a uma pousada de praia antes do meio-dia, sonhando em aproveitar o resto da tarde. Só consegui a chave do quarto quase às 16h. Naquele dia, a primeira diária pareceu ter sido apenas no papel, e a sensação de perda foi inevitável. Ler a nova regra me fez pensar em como situações assim poderão ser mais bem prevenidas para os próximos viajantes.

Por outro lado, conversando com hoteleiros, é impossível ignorar a preocupação. A logística de liberar um quarto limpo, arrumado e dentro do prazo não é trivial. Em estabelecimentos menores, cada hora extra de permanência de um hóspede pode significar atraso na preparação para o próximo. E, no caso de redes maiores, a necessidade de ampliar equipes de limpeza e recepção certamente terá reflexo nos custos operacionais.

O que parece, portanto, uma vitória unilateral do turista, pode se transformar em um cabo de guerra: de um lado, a busca por transparência e respeito ao consumidor; de outro, a luta do setor para não transformar essa exigência em tarifas mais altas.
Enfim, o viajante sonha com mais tempo para viver o destino e o hotel busca sobreviver dentro de um mercado cada vez mais competitivo. Entre ambos, está o desafio de equilibrar direitos, custos e experiências. Talvez a verdadeira medida do sucesso não seja a conta das horas, mas a capacidade de transformar esse tempo em lembranças que valham a viagem.