O governador do Estado de São Paulo, João Doria, venceu mais uma queda de braço com o presidente Jair Bolsonaro ao conseguir manter a Fórmula 1 na capital paulista. O anúncio, feito na semana passada, encerrou a primeira das grandes disputas entre os dois políticos, que começou há quase um ano e meio. Na ocasião, Bolsonaro, que acabara de assumir a Presidência, anunciou que levaria a competição para a cidade maravilhosa. O presidente chegou a assinar um protocolo para a doação de um terreno do Exército em Deodoro, região onde seria construída a nova pista. O tradicional autódromo do Rio de Janeiro, em Jacarepaguá, foi desativado em 2012 para construção do parque olímpico. O projeto já estava sendo levado adiante pelo consórcio vencedor, o Rio Motorsport, que planejou até como seria o desenho do novo circuito e mantinha negociações com a Liberty Media, detentora dos direitos de organização e imagem para as transmissões das corridas.

“A mudança do nome de ‘GP Brasil’ para ‘GP São Paulo’ é importante porque foi fruto de muito esforço da Prefeitura e do governo do Estado” Bruno Covas, prefeito de São Paulo (Crédito: Renato S. Cerqueira)

A proposta caiu por terra por não se mostrar viável, nem do ponto de vista econômico, nem ambiental. O projeto previa um pagamento maior aos organizadores e destuiria uma área de preservação ambiental, a Floresta de Camboatá, no Rio, o que acabou provocando reações negativas de patrocinadores e pilotos. O hexacampeão Lewis Hamilton questionou a construção da nova estrutura e a derrubada da floresta. São Paulo, que promove o evento há trinta anos, acabou entrando às negociações.

Velocidade

“A audiência da F1 no Brasil é uma das maiores do mundo em TV aberta e por isso a etapa é estratégica. As marcas ajudam a pagar essa conta alta”, explica o professor de marketing esportivo da ESPM, Ivan Martinho. Segundo ele, a manutenção do evento na capital paulista tornou as condições mais favoráveis, até mesmo para que a TV Globo, que já havia desistido de transmitir as corridas a partir de 2021, voltasse a negociar as transmissões. “Automobilismo não chega a ser como futebol, que é praticamente uma religião no Brasil, mas certamente está nos primeiros lugares na atenção do brasileiro”, acrescenta o professor, citando o histórico de pilotos vencedores do País, como os paulistas Emerson Fittipaldi e Ayrton Senna.

Para a cidade de São Paulo, a manutenção da corrida tem um peso econômico fortíssimo. O evento está entre os maiores do município, movimentando quase R$ 400 milhões com turistas, que lotam mais de 80% dos hotéis. A Associação Brasileira da indústria de Hotéis do Estado de São Paulo (Abih-SP) comemorou a decisão e o impacto positivo para o setor hoteleiro, uma vez que 80% dos espectadores da F1 são estrangeiros.

Durante o anúncio, o governador João Doria celebrou a manutenção da corrida em São Paulo. “Foi a vitória do bom senso e do equílibrio”, afirmou Doria. Apesar do acerto já ter sido confirmado pelos parceiros, a Prefeitura de São Paulo informa que só assinará o contrato efetivamente no início de dezembro e que o acordo valerá para os próximos cinco anos com garantias de renovação para mais cinco. O prefeito Bruno Covas afirmou durante o evento que, agora, a etapa irá se chamar “GP São Paulo”, não mais “GP Brasil”. “A mudança é importante porque foi fruto de muito esforço da Prefeitura e do governo do Estado”, explicou Covas. Tudo para não deixar mais dúvida de quem venceu a corrida.

MAQUETE O projeto do autódromo para o Grande Prêmio do Rio não saiu do papel: ele destruiria o meio ambiente (Crédito:Picasa)