A vitória do prefeito Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo na disputa à reeleição contra o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), por 59,35% a 40,65% – confirmada pela Justiça Eleitoral às 18h42 deste domingo, 27 – fortalece a candidatura do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) à presidência da República em 2026 e tender a dar a ele maior mobilidade para depender menos do bolsonarismo daqui por diante.

Essa é a avaliação de diferentes players da política nacional e também de uma parcela relevante da academia.

“Nessa vitória do Ricardo Nunes, o Tarcísio foi o grande cabo eleitoral, inclusive, no momento ruim da campanha”, avalia o cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira, professor e coordenador do mestrado de Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.

“O resultado fortalece, sem dúvida nenhuma, o governador como uma liderança política, daqui pra frente, com autonomia. Pode dar a Tarcísio de Freitas uma maior mobilidade para depender menos do bolsonarismo, uma vez que o Gilberto Kassab (presidente do PSD) já saiu a campo, inclusive, defendendo que ele é a principal novidade na política e encaminhando o seu nome para 2026”, acrescenta Teixeira.

Para o professor, o resultado evidencia que “o PT não entrou de fato na campanha do Boulos nem o próprio Lula”. “Ficou longe daquilo que se esperava. Inclusive, na transferência de voto, com o apoio político do Lula. O Boulos tinha 23% de intenção de voto quando começou a campanha em julho e encerrou o primeiro turno com 29%. Ou seja, se houve aí algum incremento, foi muito mais em função da campanha do que do apoio de Lula”, afirma.

Em São Paulo, nem Lula mergulhou para valer na campanha de Guilherme Boulos – o apoio foi comedido, na avaliação de muitos militantes – nem o ex-presidente Jair Bolsonaro se esforçou em favor de Nunes, e chegou a titubear em vários momentos se mantinha a aliança. Assim, não houve a polarização aguardada entre a esquerda versus bolsonarismo.

Tarcísio de Freitas, que foi o padrinho de verdade da candidatura Nunes, e sai fortalecido com a vitória, só não fica ainda melhor na fotografia por causa de um comentário, ainda durante o processo de votação, de que a polícia paulista teria interceptado um “salve” da organização criminosa PCC para orientar o voto em Boulos. Tarcísio fez a declaração ao lado de seu candidato, Nunes.

A afirmação foi feita sem que tivesse havido qualquer comunicação oficial das forças de segurança sobre o assunto à Justiça Eleitoral.

O fato teria ocorrido em setembro. Boulos se disse revoltado porque a afirmação interferia na votação e anunciou que entraria com ação na Justiça Eleitoral por abuso de poder político e divulgação de notícia falsa.

O cientista político Marco Antonio Teixeira também fez reparo à ação de Tarcísio. Segundo ele, Tarcísio se fortaleceu politicamente, mas “se enfraqueceu moralmente” ao interferir na eleição. “Se ganhou como resultado, saiu pequeno como líder político ainda em construção”, acrescentou.

“Tarcísio é o futuro”

Ao discursar, na comemoração da vitória”, o prefeito Ricardo Nunes afirmou que “o equilíbrio venceu todos os extremismos”. Nunes agradeceu ao seu “líder maior”, o governador Tarcísio de Freitas, para quem se virou e disse “seu sobrenome é o futuro”, em alusão às eleições presidenciais de 2026.

Segundo Nunes, Tarcísio “deu a mão no momento mais difícil”. O prefeito também agradeceu à sua mulher, Regina Carnovale, e disse que ela sofreu enormes maldades nessa campanha”, por parte de opositores. A mulher do presidente Lula, Janja, participou da gravação de um vídeo, às vésperas do segundo turno, no qual mulheres apoiadoras de Boulos diziam que não poderiam confiar em Nunes por causa de um boletim de ocorrência por violência doméstica feito por Regina contra Nunes, em 2011. Nunes nega a agressão.

Para Tarcísio, houve uma “vitória maiúscula de Nunes” e da frente de 11 partidos que o apoiou. “É a vitória dessa frente ampla que se formou, das lideranças que estão aqui e da família do Ricardo que sofreu com baixarias”, afirmou. “Foi a vitória do trabalho sobre a lacração”.

Planalto está conformado com resultado

Para auxiliares do presidente Lula, o resultado da eleição em São Paulo não foi uma surpresa, pois as pesquisas eleitorais já desde o primeiro turno mostravam que num eventual segundo turno entre Ricardo Nunes e Guilherme Boulos o candidato emedebista seria o vencedor. Para colaboradores de Lula, Boulos foi derrotado, mas avançou e se fortaleceu politicamente.

Lideranças petistas discordam de que o resultado foi uma derrota de Lula, ao mesmo tempo que rechaçam a leitura de que o presidente não teria estado presente na campanha de Boulos. Lembram que Lula participou já do primeiro programa de Boulos no horário eleitoral na TV.

O deputado estadual paulista Simão Pedro (PT), um dos coordenadores da campanha de Boulos, atribuiu a vitória de Nunes ao poder da máquina da prefeitura paulistana.

“Venceu a máquina, a mentira. Venceu um conjunto de forças retrógradas que maquiou a cidade de São Paulo às vésperas da eleição, torrando dinheiro público e escondendo muita coisa da população”, disse Simão Pedro ao PlatôBR.

Para o deputado, já havia, antes mesmo do resultado do segundo turno, “um discurso pronto de parte da mídia de que o PT e o Boulos foram derrotados”. “Mas tiramos lições importantes desse processo e vamos continuar fiscalizando a cidade de São Paulo para que a população não sofra, como vem sofrendo nesses últimos anos”, afirmou o parlamentar petista.

A leitura de um ex-petista e, agora, aliado de Nunes

Ex-deputado e ex-líder do PT na Câmara, Candido Vaccarezza, hoje assessor da Secretaria de Relações Internacionais da prefeitura de São Paulo, votou em Ricardo Nunes, mas não acha que as disputas municipais têm muito efeito sobre as eleições presidenciais.

“As eleições municipais não têm uma relação direta com as eleições federais (para presidente, governador, deputado e senador) como as pessoas pensam. Não acho que a vitória de Nunes significa necessariamente uma derrota do Lula e que isso vá ter um impacto imenso para o PT”, afirma Vaccarezza, que era até recentemente filiado ao Avante, legenda do Centrão e da coligação de Nunes, e no momento está sem partido.

“São outros elementos que vão somar ou dividir ou subtrair para levar a opção do eleitor. Eu acho que existe uma polarização marcante na sociedade brasileira e essa polarização também tem uma politização”, avalia.

“O PT teve um resultado pífio na eleição para prefeito em São Paulo em 2020 e, depois, o Lula foi eleito presidente de novo. E o MDB sempre comandou muitas prefeituras pelo país e não venceu uma eleição direta para a Presidência”, lembra o ex-deputado.

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