Tudo indica que Joe Biden vai ganhar as eleições americanas que ocorrem em quase duas semanas, dia 3 de novembro. Mais do que isso, os republicanos temem, com razão, que ocorra uma lavada capaz de garantir a maioria democrata no Senado e na Câmara. Se isso se confirmar, pautas vitais poderão ser definidas, como o futuro das big techs. No último dia 6, um comitê do Congresso publicou os resultados de uma longa investigação sobre as práticas monopolistas de Google, Amazon, Apple e Facebook. Os dois partidos concordaram que o poder das companhias precisa ser limitado para garantir a competição, mas divergem sobre as medidas a serem adotadas. Os republicanos, menos intervencionistas, desejam aplicar regras antitruste em vigor. Já os democratas têm propostas mais duras, como impedir que a Amazon venda produtos próprios. Abandonaram as teses radicais da esquerda do partido, que pregavam a divisão das companhias com a transferência de controle.

Democratas podem conseguir o controle do Congresso.
Isso favorece a regulação das gigantes tecnológicas

Há um outro desdobramento no enquadramento das gigantes digitais, ligado à circulação de ideias. O predomínio sobre o mercado publicitário asfixiou a imprensa e a falta de transparência abriu espaço para a polarização e os radicais. A Europa e países como a Austrália avançam em regulação que vai garantir que parte dos recursos conquistados com o fluxo das notícias seja revertido para aqueles que as produzem e respondem por elas — o que as tecnológicas se recusam a fazer. Diante do cerco, o Google se prepara para licenciar conteúdo jornalístico em vários países. O Twitter passou a inibir as fake news. O Facebook também foi obrigado a agir. As companhias dizem que atingiram mais eficiência por méritos próprios. O sucesso não pode ser confundido com práticas anticompetitivas, argumentam.

Mas isso não é suficiente. Com a hegemonia que adquiriram, é inevitável que os países limitem a sua atuação, que interfere nos mercados, elimina competidores, ameaça a privacidade dos cidadãos e deforma a própria democracia. É uma necessidade histórica, que já foi enfrentada antes nos EUA, como na quebra do monopólio do petróleo e das empresas de telecomunicação. Os EUA se cansaram do caos imposto por Trump. Os democratas se aproximam mais da visão europeia de uma regulação saudável e controlada no ciberespaço, e podem ter força parlamentar para implementá-la. Que sua vitória traga boas notícias também para o ambiente tecnológico, sem que se iniba o desenvolvimento e a criatividade. O mundo agradece.