O idoso de aproximadamente 60 anos, vítima da briga entre palmeirenses e corintianos em São Miguel, tinha no bolso uma nota de R$ 5 meio velha e um cartão telefônico, daqueles usados nos orelhões, bem antes do boom dos aparelhos celulares. A falta de documentos básicos coloca a polícia em dificuldades para identificá-lo. Três dias depois dos confrontos, o corpo permanece à espera de identificação.

A reportagem do Estadão.com conversou com testemunhas da briga na Praça do Forró. Ninguém se lembra dele ter estado por lá antes da tragédia. Alguns arriscaram dizer que ele se encaminhava para a missa na Capela de São Miguel Arcanjo. As roupas simples que vestia, camiseta laranja, bermuda cinza e sandálias de pescador, podem indicar um passeio mais na própria praça, um dos poucos espaços arborizados do bairro. Policiais garantem que ele não é dali. Com a descrição em punho, policiais percorreram os hospitais Tide Setúbal e Santa Marcelina em busca de algum atendimento anterior, mas não descobriram nada.

A comoção causada pela morte de um inocente, alguém que não tinha relação com o conflito, fez com que o IML mudasse as regras. Normalmente, as vítimas que não são identificadas em até 72 horas podem ser enterradas como “corpo desconhecido não reclamado” – os funcionários explicam que não se deve usar “indigente”.

No caso desse anônimo, cuja morte vem sendo lamentada por tanta gente, as autoridades vão esticar o prazo. Nesta quarta-feira, ninguém procurou por ele no IML de Arthur Alvim. No dia anterior, duas famílias compareceram, mas não o reconheceram. A polícia também trabalha com a chance de identificação por meio das impressões digitais.

O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, o DHPP, informou que “estão sendo realizadas diligências no local do crime para colher informações que possam ajudar na identificação da vítima”. Isso contradiz o que havia dito o secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes. Ele disse que já tinha “nome e sobrenome” da vítima.

Apesar do distanciamento da profissão, os policiais que trabalhavam no domingo se mostram comovidos. Contam que a briga foi feia, com cara de premeditada. Segundo a polícia, palmeirenses e corintianos – cerca de 200 ao todo – também tinham armas de fogo. Mulheres e crianças corriam desgovernadas e caíam. Carros viraram trincheiras.

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A avaliação é de que poderia ter morrido mais gente. O dedo do policial vai apontando que a única vítima dos quatro confrontos de torcidas no último domingo foi atingida em um lado da praça, no centro do tumulto, e cambaleou até o lado oposto.

Outro policial, mais tocado pela tragédia, diz que descobrir o nome da vítima vai ser importante para a família, se houver, e também para a luta contra a violência das torcidas organizadas.


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