O caos criado por Copi (1939-1987) em suas dramaturgias só ganhava ordem com a direção do amante Jorge Lavelli. Radicados na França, a relação ultrapassava o teatro, passando pela literatura e desenho. Em Desmesura, que estreou nesta sexta, 5, no Centro Cultural São Paulo, o Teatro Kunyn desperta personagens da ficção e realidade que se encontram com o argentino, morto pela aids, em seus últimos instantes de vida. “São delírios de familiares que marcaram sua vida, ou de eventos significativos na trajetória do dramaturgo”, explica o ator Ronaldo Serruya, que agora estreia como dramaturgo. “Apesar de conhecer suas peças, achei mais interessante criar uma história sobre sua vida.”

Embora seja pouco conhecido e montado no Brasil e na América Latina, Copi é autor de textos como O Homossexual ou A Dificuldade de Se Expressar e A Geladeira, que estiveram em cartaz na cidade no ano passado. Nessas peças, as personagens encaram a sexualidade como uma condição fluida. “Elas mudam de sexo junto com as cenas”, explica Serruya.

Em Desmesura, o passeio pela vida de Copi é motivo para discutir a atualidade de ser soropositivo. Para o dramaturgo, os últimos 30 anos ainda influenciam o debate sobre a transmissão do HIV e da convivência com o vírus da aids. “Naquela época, os portadores já tinha ideia de que morreriam em breve. Hoje, com tantos recursos investidos em pesquisa e desenvolvimento de medicamentos, as pessoas vivem. As narrativas não precisam ser só de morte.”

No palco, as estranhas figuras como a avó de Copi, uma travesti e um policial nascem de um buraco e passam a compartilhar memórias com o argentino, conta o diretor Luiz Fernando Marques. “Eles também atualizam a própria visão do legado de Copi”, recorda.

Em uma das cenas, a travesti se recusa a surgir como um homem de barba. “Isso nos abre espaço para discutir o lugar de fala”, avalia Serruya. “Antes, isso não era uma questão, mas hoje é importante pensar no protagonismo dessas pessoas.”

DESMESURA

Centro Cultural São Paulo. Rua Vergueiro, 1.000. Tel.: 3397-4002. 6ª, sáb., 21h, dom., 20h. R$ 20 /

R$ 10. Estreia hoje, 5. Até 11/6.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.