Por mais de uma década tive a oportunidade de fazer reportagens policiais. Um aprendizado incrível, com histórias sensacionais. Mas raras das investigações que pude acompanhar diziam respeito a um crime tão cinematográfico como o assalto ocorrido na semana passada no aeroporto internacional de Viracopos. Como nos melhores filmes do gênero, em um carro camuflado os bandidos invadiram a pista do aeroporto e interceptaram uma carga de um avião da Lufthansa, que fazia escala em Campinas antes de voar rumo à Suíça. Foram direto ao alvo: US$ 5 milhões em espécie, que estavam sob a guarda de uma empresa de transporte de valores. Saíram como entraram, sem ferir ninguém e sem deixar pistas.

Saindo do cinema e olhando o assalto de Viracopos sob a luz da realidade, alguma reflexão se faz necessária. Uma delas é obvia. Não há dúvida de que faz parte da gangue funcionários ou ex-funcionários da transportadora de valores e/ou da Lufthansa e do aeroporto. Não fosse assim, como os bandidos saberiam que naquele avião, naquela hora e naquele lugar estava a dinheirama? Como saberiam que essa carga, embarcada em São Paulo, seria desembarcada em Campinas para depois seguir à Europa no mesmo avião? São perguntas elementares e que deverão ser respondidas por uma investigação competente.

Há, no entanto, um mistério no assalto de Viracopos que precisa ser esclarecido rapidamente e que pode também levar aos bandidos. O que faziam em um avião US$ 5 milhões em espécie?Logo depois de consumado o assalto, a transportadora de valores e a Receita Federal se posicionaram, dizendo que a remessa do dinheiro para o exterior estava devidamente declarada e, portanto, era legal. Não informaram, porém, a quem pertence o dinheiro e nem explicaram o que leva alguém, seja pessoa física ou jurídica, a remeter US$ 5 milhões em espécie. Em off, funcionários da Receita disseram que não é raro casas de câmbio usarem esse método. Mas, nesse caso, seria razoável imaginar que uma casa de câmbio na Europa precisaria de Reais em papel moeda e não de dólares mandados do Brasil.

Responder a essas questões pode ajudara a chegar aos bandidos e também poderá confirmar ou desmentir uma história que circula em diversos corredores da Polícia Federal. Diz essa história que o PCC teria descoberto que corruptos do Petrolão estariam usando empresas de transporte de valores para enviar ao exterior a propina recebida no Brasil. Em posse dessa informação, o crime organizado passou a atacar essas empresas para roubar o dinheiro roubado da Petrobras. Se for assim, o assalto de Viracopos pode virar uma nova frente da Lava Jato.