As Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança curdo-árabe apoiada pelos Estados Unidos, travavam nesta quinta-feira em Raqa violentos combates contra os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI).

Sete meses após o início de uma ofensiva que lhes permitiu tomar grandes áreas em torno de Raqa, as FDS entraram na terça-feira no bairro de Mechleb depois do anúncio do início da grande batalha para tomar este reduto dos extremistas no norte da Síria.

Um correspondente da AFP que entrou na quarta-feira neste bairro da zona leste de Raqa junto com as FDS testemunhou intensos ​​combates com o disparo de morteiros pelo EI.

Parte do bairro é agora controlado pelas FDS, apoiadas em sua ofensiva pelos ataques aéreos da coalizão internacional liderada por Washington.

Os combatentes da aliança árabe-curda estão equipados principalmente com armas leves, incluindo Kalashnikovs.

Eles tentam esconder seus veículos para que não sejam vistos pelos drones do EI, utilizados para largar bombas.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), uma ONG que dispõe de uma vasta rede de fontes na Síria, informou que as FDS controlam cerca de dois terços do distrito de Mechleb, e estão a 400 m do bairro vizinho de Al-Senaa.

– Bombardeios incessantes –

“O EI dispõe de atiradores escondidos e disseminou muitas minas em Mechleb”, informou a ONG. O bairro foi esvaziado da sua população civil pelos jihadists antes da chegada das FDS, e o EI abriu trincheiras defensivas e túneis.

Combates também eram travados na periferia oeste de Raqa, segundo o OSDH, que indicou que agentes das forças especiais americanas estavam presentes em várias frentes em Raqa.

Na quarta-feira, um correspondente da AFP viu veículos blindados da coalizão com armas pesadas cobertos com lonas camufladas estacionados sob oliveiras no deserto a leste da cidade.

Os comandantes das FDS trabalham para identificar os alvos inimigos. Pneus foram colocados nas ruas para parar os carros-bomba dos jihadistas.

Raqa, conquistada pelos extremistas islâmicos em 2014, tornou-se símbolo das atrocidades cometidas pelo EI, entre elas decapitações, execuções públicas e base para o planejamento de atentados no exterior.

Os habitantes relatam bombardeios constantes, segundo um ativista do coletivo “Raqa is Being Slaughtered Silently”.

– Exército ausente –

Segundo ele, as condições de vida se deterioraram enormemente com os bombardeios e a escassez de água e eletricidade.

O número de civis mortos em ataques da coalizão tem aumentado desde que as FDS lançaram a ofensiva de Raqa há sete meses. Na segunda-feira, 21 civis foram mortos quando tentavam fugir da cidade cruzando o Eufrates em uma embarcação.

Um dos ataques aéreos de terça-feira matou oito civis, incluindo três crianças, de acordo com o OSDH.

Segundo a ONU, cerca de 160.000 pessoas vivem na cidade, contra 300.000 antes do início do conflito.

O porta-voz do escritório de coordenação dos assuntos humanitários da ONU, David Swanson, declarou que cerca de 100.000 pessoas podem se ver bloqueadas durante este ataque final.

Na terça, o Comitê Internacional de Resgate expressou sua preocupação com a segurança dos civis em Raqa, porque o número de pessoas fugindo da cidade diminuiu muito desde a semana passada, o que poderia indicar que o EI quer utilizá-las como “escudos humanos”.

O Exército sírio não participa da batalha de Raqa, apesar de a agência oficial Sana afirmar que a aviação atacou posições do EI a oeste da província.

Iniciada em março de 2011 pela repressão do regime às manifestações pacíficas pró-democracia, a guerra na Síria já deixou mais de 320.000 mortos e obrigou mais da metade dos quase de 22 milhões de habitantes a deixar suas casas.