Civis baleados, cidades sitiadas. Uma recente escalada de ataques do crime organizado no México revelou as fragilidades da política de segurança do governo, segundo especialistas.

Os ataques lançam dúvidas sobre a eficácia da estratégia “abraços, não balas” do presidente Andrés Manuel López Obrador. Ele é acusado de “militarizar” o país ao deixar a segurança dos cidadãos nas mãos da Guarda Nacional, órgão com comando civil formado principalmente por soldados.

O desafio mais recente, com bloqueios e incêndios de veículos, ocorreu há uma semana em Zacatecas (centro), outrora um estado pacífico onde os homicídios são diários.

Os eventos mais violentos ocorreram em meados de agosto em Guadalajara (oeste), Guanajuato (centro), Ciudad Juárez e Baja California (fronteira norte com os Estados Unidos), com balanço de 12 mortos e negócios em cinzas.

Embora esses eventos não sejam inéditos nem relacionados, causaram comoção por afetarem civis e o alerta de Washington sobre um impacto econômico.

“Eles geram pânico na população, confusão nas autoridades políticas e as autoridades de segurança ficam paralisadas”, disse à AFP David Saucedo, consultor de segurança.

Em um país onde operam vários cartéis de drogas e gangues que atuam com roubo de gasolina, extorsão e contrabando de migrantes, especialistas concordam que os ataques respondem a múltiplos contextos.

Em Jalisco e Guanajuato, por exemplo, ocorreram após a tentativa fracassada de capturar dois chefes do cartel Jalisco Nova Geração. Por um deles, Nemesio Oseguera, os Estados Unidos oferecem 10 milhões de dólares. Em Juárez foram motivadas por guerras entre gangues ligadas a narcotraficantes.

Saucedo julga a ofensiva como “narcoterrorismo”, termo que López Obrador evita. Em vez disso, o governo de esquerda chama isso de “propaganda criminosa” diante de sucessivos golpes.

– Receita similar –

Desde que o presidente Felipe Calderón (2006-2012) enviou militares para combater os cartéis, com financiamento de Washington, o México acumula cerca de 340.000 assassinatos, enquanto os desaparecidos alcançam 100 mil casos, segundo dados oficiais.

Afirmando que essa iniciativa fracassou, López Obrador defende que seu plano se concentra na redução da pobreza como raiz do problema e destina enormes recursos a programas sociais (23 bilhões de dólares em 2022).

“Com essa estratégia básica estamos reduzindo a violência”, proclamou na última quinta-feira em seu relatório anual, lembrando que os crimes federais caíram 29,3% durante seu governo, que começou em 2018.

Além disso, entre janeiro e julho os homicídios caíram 8,7% em comparação ao mesmo período de 2021, com 18.093 vítimas.

O presidente, eleito até 2024 e cuja aprovação ronda os 61%, também está empenhado em deixar a Guarda Nacional sob o comando do Exército, segundo ele para aproveitar a experiência da instituição.

Operações semelhantes levaram à substituição da Polícia Federal pela Guarda em 2019. O México fechou 2021 com uma taxa de 29 homicídios por 100.000 habitantes.