Torcedores ingleses invadiram Wembley durante a final da Eurocopa, deixando um rastro de caos e violência que nesta segunda-feira geraram críticas à segurança do evento em Londres e mancharam a imagem de um futebol nacional também marcado por insultos racistas.
A polícia abriu uma investigação para identificar as dezenas de torcedores sem ingresso que no domingo forçaram as barreiras de controle para entrar no estádio na capital inglesa, onde a Itália acabou vencendo a Inglaterra nos pênaltis (3 a 2, depois do empate por 1 a 1 no tempo regulamentar e prorrogação).
Essa invasão, que gerou cenas de violência violentas quando outros torcedores tentaram conter os arruaceiros, atraiu críticas de autoridades esportivas e policiais e pode ameaçar a candidatura do Reino Unido para sediar a Copa do Mundo de 2030.
Uma das questões criticadas foi a presença de dezenas de milhares de torcedores sem ingresso horas antes do início da final nos arredores do estádio, em meio à pandemia do coronavírus, apesar da orientação das autoridades proibindo aglomerações.
No entorno de Wembley, muitos torcedores embriagados jogaram pedras, latas de cerveja e outros objetos nas pessoas que passavam pelo local, conforme constatatou um jornalista da AFP.
“Essas cenas são inaceitáveis e condenamos a violência, o comportamento antissocial e o abuso nos termos mais fortes possíveis”, disse o porta-voz do primeiro-ministro Boris Johnson nesta segunda-feira.
“Foi a pior experiência que já tive como torcedor em um jogo de futebol”, escreveu no Twitter o jornalista esportivo Mike Keegan.
“Organização caótica, a polícia não estava em lugar nenhum, torcedores sem ingressos correndo como loucos dentro do que era um gigantesco terreno fértil para a covid-19”, afirmou.
“Eu vi brigas, garrafas jogadas, pessoas chutando janelas e (algo novo para mim) tive que sair do caminho de um policial armado com sua pistola sacada perseguindo alguém”, acrescentou.
A polícia fez 49 prisões e 19 policiais ficaram feridos.
“Os hooligans (torcedores violentos), obviamente e com razão, são os responsáveis condenados, mas a segurança de Wembley precisa melhorar. Um torcedor invadiu o campo. As cenas e os insultos aos italianos e seu hino são constrangedores e também um desastre para a candidatura à Copa do Mundo de 2030. A Inglaterra pode ter perdido dois torneios em uma noite”, publicou Henry Winter, jornalista do The Times.
Questionado sobre o impacto potencial na candidatura britânica para a Copa do Mundo de 2030, o porta-voz de Johnson se limitou a garantir que o governo “apoia a polícia para tomar mais medidas”.
Ciente dos prejuízos, a Federação Inglesa de Futebol (FA) condenou “veementemente” a atitude dos torcedores violentos e prometeu “trabalhar com as autoridades” para puni-los.
O presidente-executivo da FA, Mark Bullingham, pediu desculpas aos outros torcedores, garantindo à BBC que a equipe de segurança do estádio “nunca tinha visto nada parecido”.
“Havia um grande número de bêbados que tentavam entrar à força, tínhamos um estádio e não uma fortaleza”, defendeu.
A polícia de choque também teve que intervir no centro de Londres, onde grandes grupos tentaram entrar em uma ‘fan zone’ sem ingressos, enquanto outros subiam nos tetos dos ônibus e nos postes de luz.
“Não são amadores, são hooligans”, denunciou a Federação da Polícia Metropolitana.
Como se não bastasse, a FA também se declarou “chocada” e “revoltada” com os comentários racistas veiculados nas redes sociais contra os jogadores negros Marcus Rashford, Jadon Sancho e Bukayo Saka, que perderam as cobranças de pênaltis.
“Os responsáveis por esses ataques horríveis deveriam ter vergonha de si mesmos”, escreveu no Twitter Johnson, considerando que “esta seleção da Inglaterra merece ser tratada como herói e não atacada racialmente nas redes sociais”.
Os insultos foram chamados de “imperdoáveis” pelo técnico inglês Gareth Southgate em entrevista coletiva nesta segunda-feira.
“Uma parte vem de fora (do país), como nos disseram, mas outra parte vem deste país”, reconheceu, preferindo focar na “energia e espírito positivo” da grande maioria dos torcedores, que vão pagar pelos pratos quebrados pelos outros.
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