O governo brasileiro “fracassa” na proteção dos defensores do meio ambiente, favorecendo o avanço de redes criminosas que destroem a Amazônia, afirma a Human Rights Watch (HRW) em seu relatório “Mafias do Ipê” divulgado nesta terça-feira.

Impunidade e redução da fiscalização ambiental contribuem para o desmatamento da maior selva tropical do mundo, afirma a organização em seu relatório.

Segundo números oficiais, o desmatamento da Amazônia brasileira praticamente duplicou entre janeiro e agosto passados, indo de 3.336,7 km2 neste período de 2018 para 6.404,4 km2 este ano, o equivalente a 640 mil campos de futebol.

A destruição da Amazônia “é impulsionada em grande parte por redes criminosas que usam da violência e intimidação contra aqueles que se colocam em seu caminho. Os responsáveis pela violência raramente são levados à justiça”, denunciou a HRW, que exortou o presidente Jair Bolsonaro, a deter seus ataques verbais e acusações sem fundamento contra as ONGs, e a restabelecer a “cooperação” entre o governo e a sociedade civil para proteger indígenas, defensores do meio ambiente e a floresta.

O Brasil é o quarto país com mais homicídios de defensores do meio ambiente, segundo relatório publicado em julho pela ONG Global Witness, que informou 20 mortes por esta causa em 2018.

As ameaças na região amazônica não são uma novidade para o Brasil, que ocupou as manchetes internacionais em dezembro de 1988 com o assassinato de Chico Mendes, uma das vozes em defesa do meio ambiente mais conhecidas do mundo.

Em seu relatório, a HRW observa “retrocessos” na gestão ambiental de Bolsonaro, que defende a redução das reservas indígenas e a exploração comercial da selva amazônica.

O relatório critica Bolsonaro por nomear um chanceler – Ernesto Araújo – que qualifica a mudança climática como uma “tática globalista”, ameaçar retirar o Brasil do Acordo de Paris e reduzir o orçamento do Ministério do Meio Ambiente, além de enfraquecer sua estrutura operacional.

Madeireiros e pecuaristas são apontados como os principais responsáveis pelo desmatamento na Amazônia em busca de madeiras nobres e da criação de gado.

A HRW cita 28 assassinatos nos últimos anos cujos responsáveis podem estar envolvidos na extração ilegal de madeira, “segundo provas confiáveis”.

“Os responsáveis pela violência raramente são levados à justiça”, e em muitos casos as denúncias de ameaças são sequer investigadas pela polícia.

“Enquanto o Brasil não adotar medidas urgentes contra a violência e a ilegalidade que facilitam a extração ilegal de madeira, a destruição da maior floresta tropical do mundo continuará desenfreada”, concluiu Daniel Wilkinson, diretor de direitos humanos e meio ambiente da HRW.