06/07/2018 - 10:24
Na ensolarada manhã de 20 de março de 1995, os passageiros do metrô de Tóquio ignoravam que, minutos mais tarde, a cidade se tornaria um cenário de guerra, com o golpe desfechado pela seita Aum.
Primeiro foi o odor, um cheiro de produto químico forte e picante, parecido com o de solvente de tinta.
O terrível sarin, um gás originalmente desenvolvido pelos nazistas, foi liberado de forma líquida em cinco vagões de três composições do metrô de Tóquio em pontos diferentes.
Este ataque coordenado, que deixou 13 mortos e 6.300 feridos, era, segundo se soube mais tarde, obra da Aum Shinrikyo (Aum Verdad Suprema).
“Havia um líquido derramado no chão do vagão. As pessoas tinham convulsões nos bancos, um homem se apoiava numa das barras, com a camisa aberta, totalmente suado”, recorda Sakae Ito.
“Eu tinha a impressão de estar me afogando, tossia muito, e comecei a ter calafrios. A pessoa que estava sentada junto a mim desmaiou e os alarmes de emergência começaram a soar”, conta outro passageiro que vivenciou o drama.
Outras testemunhas recordam ter vistos pedaços de um jornal molhados depois que os membros da seita perfuraram as bolsas que continha o veneno com as pontas de seus guarda-chuvas.
Todos se debatiam, sufocando na própria espuma que saía de sua boca, um fio de sangue escorrendo pelo nariz e os olhos totalmente irritados.
“Vi um homem caído, com bolhas saindo pela boca e o nariz cheio de sangue”, confirma outra testemunha.
A polícia recebeu o primeiro aviso logo depois das 08H00 e o pânico se espalhou rapidamente.
Os funcionários do metrô gritavam para que as pessoa abandonassem os vagões, mas os passageiros sofriam convulsões e não conseguiam se mexer.
Os mais corajosos, que tentavam tirar as vítimas de dentro do metrô, também eram atingidos e caíam ao chão, enquanto que outros praticamente se viram obrigados a pisotear os corpos espalhados pelo chão para tentar respirar ar puro.
– Pânico nacional –
Do lado de fora, os transeuntes olhavam assombrados o espetáculo atordoante de passageiros saindo com as bocas espumando e os olhos avermelhados, improvisando máscaras para cobrir o rosto. Todos vomitavam e sofriam ataques de tosse.
Soldados das Forças de Autodefesa do Japão (nome oficial das forças armadas nacionais) entraram nos túneis do metrô usando trajes antirradiação e máscaras contra gás.
Ainda está gravado na memória as imagens dos soldados saindo do metrô carregando nas costas pessoas desacordadas.
Centenas de ambulâncias circulavam pelas ruas e os helicópteros aterrissavam em meio às ruas para levar os feridos para cerca de 90 hospitais.
Os médicos tentavam reanimar as vítimas com massagens cardíacas em plena rua, ante pessoas que observavam tudo chorando. Ao redor, outros passageiros deitados no chão sacudiam por espasmos incontroláveis à espera de atendimento.
Na estação de Tsukiji, perto do famoso mercado de peixe, o hospital internacional St. Lukes ficou lotado de vítimas.
Ante a falta de ambulâncias, muitas vítimas eram levadas de táxi. Ante a falta de camas, as vítimas eram colocadas em macas nos corredores do hospital, transformados em salas de primeiros socorros.
O Japão, que dois meses antes havia sido abalado pelo terrível terremoto de Kobe, está acostumado a catástrofes naturais, às quais se submete com certo fatalismo, mas, em um país em que a criminalidade é muito baixa, o atentado provocou um pânico nacional jamais visto antes.