Aos 40 anos de idade, Vinicius de Oliveira celebra mais uma conquista profissional. O ator, que ficou conhecido ainda na infância por fazer parte do elenco do filme “Central do Brasil” (1998), ao lado de Fernanda Montenegro, se desafiou em mais uma produção cinematográfica, o filme “Quase Deserto”, dirigido por José Eduardo Belmonte, com estreia marcada para esta quinta-feira, 27, no cinema nacional.
A história se passa em Detroit, cidade norte-americana, em um cenário preocupante de pós-pandemia e uma turbulenta eleição entre Donald Trump e Joe Biden. O personagem de Vinicius de Oliveira acaba se envolvendo em um assassinato, e sem pensar muito, acabam resgatando a única testemunha do crime: uma mulher americana com uma síndrome rara. A partir daí, eles terão que se unir em um processo que envolve fuga, redenção e recomeço.
Em entrevista à IstoÉ Gente, o artista contou que ficou sabendo do longa-metragem através de convite do cineasta para compor o personagem Luís, um imigrante latino, que tenta a vida nos Estados Unidos. “O Belmonte tinha uma ideia bem clara do que ele queria para o personagem, para o Luís, e pensou em mim, fiquei muito feliz […] Decorar texto [em inglês] está fácil, me viro bem. Adorei que era um filme muito pautado justamente no início de carreira do Belmonte, quando ele pegava as histórias, viajava e desconstruía narrativas de uma maneira muito brilhante e acho que o ‘Quase Deserto’ trabalha muito nessa seara de desconstrução de narrativa clássica de um cinema”, afirma.
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Ao ser questionado sobre as diferenças de atuar em uma produção cinematográfica nacional e em uma norte-americana, o ator recorda que no início das filmagens conheceu pessoas de muito destaque na indústria, no entanto, ao longo do processo, os “grandões” foram deixando de participar do longa-metragem.

Cena do filme “Quase Deserto”, com Vinicius de Oliveira – Leslie Montero/Divulgação
“Uma coisa curiosa que aconteceu nesse filme foi que, num primeiro momento, tínhamos uma equipe de nível alto nos departamentos. Só que foi naquela época em que o sindicato dos artistas dos Estados Unidos estava em greve, então nada estava podendo filmar, só uma coisa ou outra, e a gente podia. Só que do nada terminou [a greve] e as pessoas voltaram a filmar e todo mundo que era muito bom voltou para as grandes produções. E a gente foi ficando com a equipe B, C, a galera que fazia mais publicidade ali na cidade ou então na cidade vizinha”, conta.
“Foi uma loucura, porque a gente se deparou com esse universo completamente diferente do que a gente imaginava que seria lá e completamente diferente do nosso brasileiro aqui. O nosso brasileiro aqui, perto do que a gente filmou lá, era mil vezes melhor. Se a gente não tivesse levado o nosso ‘know-how’ para lá o filme ia ser um desastre, juro por Deus”, completa.
Vinicius de Oliveira ainda reflete sobre a importância de levar paras as telonas um tema tão atual e da realidade mundial: a imigração. “Eu trabalho com cinema sempre pensando nessa possibilidade de usar a arte para expor as situações, abrir diálogo e reflexão. Sou muito pró a esse tipo de cinema, sabe? Não só como entretenimento, mas como algo político, que questiona, que faz o espectador pensar e refletir. É um tema antigo e atual, que nunca saiu das nossas vistas. Desde muito tempo a questão da imigração é um problema mundial, muito dolorido, muito violento, e agora voltou a ficar em voga porque o que o Trump faz é uma coisa de louco, né? É completamente desumano com as pessoas, sejam imigrantes ou até os que estão lá legalizados”, lamenta.
“Central do Brasil”
Vinicius de Oliveira tinha 12 anos de idade quando filmou “Central do Brasil”, filme indicado ao Oscar em duas categorias, em 1999. O garoto trabalhava nas ruas como engraxate quando abordou o diretor Walter Salles para pedir que ele lhe comprasse um lanche. Depois do episódio, a vida de Vinicius nunca mais foi a mesma. Ele foi convidado para participar do longa-metragem ao lado de ninguém menos que Fernanda Montenegro. No ano seguinte às filmagens já estava em Hollywood participando da maior premiação do cinema mundial e sonhando com novos projetos para o futuro.
Ao fazer um balanço de sua trajetória até aqui, o artista conclui que tomou a melhor decisão da sua vida ao atender o convite de Salles. “Se eu encontrasse o Vinicius daquela época eu daria um tapinha nas costas dele e falaria: ‘Ainda bem que no instante que você deu as costas para o Walter Salles, no momento em que você ignorou aquele homem, você parou para pensar – ou alguém te falou alguma coisa no seu ouvido, te soprou -, e você voltou para pedir para ele te pagar um sanduíche. Eu estou aqui por conta disso, parabéns”, emociona-se.

Vinicius de Oliveira na época de “Central do Brasil” e atualmente, aos 40 anos – IMDB e Reprodução/Instagram
Carreira no futebol
À IstoÉ Gente, Vinicius de Oliveira também reconhece que trilhou o caminho que mais desejou. No entanto, não descarta outras possibilidades de profissões. Ele chegou a ser uma promessa do futebol ainda na infância e conta como se distanciou dos gramados.
“Às vezes dá um negocinho aqui no coração, sabe por quê? Eu comecei a entender que seguiria a profissão de ator quando recebi o convite do Walter para fazer o ‘Linha de Passe’, esse terceiro filme que eu fiz com ele. Mas eu sempre amei futebol e antes de ser ator eu queria ser jogador, jogava para caramba. Na preparação para ‘Linha de Passe’ eu fui treinar no centro de futebol do Zico, no Rio de Janeiro, e lá me chamavam de Carcará, falavam para eu fazer um teste no time profissional, e eu falava: ‘Por**, não, acho que não, eu estou aqui já no meio do cinema, então acho que eu vou seguir por aqui, talvez seja mais fácil. Mas aí pensando, olhando para trás, eu fico me perguntando por quê? [risos]”, diverte-se.
“Porque, cara, um monte de perna de pau, um monte de gente ruim jogando bola por aí, e eu aqui, querendo fazer arte”, diverte-se. “Poderia estar aposentado, com a conta bancária bombando. Mas, são escolhas, faz parte. Brincadeiras a parte, eu não me arrependo, não. Só às vezes dá um negocinho no coração, às vezes”, explica ele, que pensa em um plano B para o futuro: “Fico pensando em ser treinador de futebol, acho que um dia vou meter o louco, estudar Educação Física e vou treinar futebol, bicho. Aí seria massa também”, conclui.

Cena de “Central do Brasil” com Fernanda Montenegro, Vinicius de Oliveira e Matheus Nachtergaele – IMDB