O aborto ainda é um tabu que divide opiniões, e no Brasil a prática só é permitida a mulheres com risco de morte, bem como vítimas de estupro e em casos de anencefalia fetal. No entanto, nem mesmo essas condições são consideradas por algumas pessoas, como certos grupos religiosos. E para reforçar a reprovação e interceder pelo fim aborto no país e no mundo, cristãos estão realizando desde 2 de março a campanha 40 Dias Pela Vida em uma vigília em frente ao Hospital Pérola Byington, em São Paulo. 

O movimento em questão teve início nos Estados Unidos, em 2004, e segue pelo mundo desde 2007, alcançando 63 países. No Brasil, a vigília antiaborto está na quarta edição. Em São Paulo, o local escolhido é sempre o mesmo, de forma estratégica, na porta do hospital referência em atendimento a vítimas de abuso sexual e no serviço de interrupção legal da gestação. 

Reportagem do TAB UOL, de onde são as informações, destaca que o movimento está acontecendo diariamente entre as 10h e 18h, com a presença de cristãos, de maioria católica, que revezam as rezas defendendo que a vida surge no ato da concepção.

Liham Oliveira, de 23 anos, coordenador do posto de oração, explica à reportagem: “A igreja é contrária ao aborto, tanto que pune com excomunhão automática quem realiza esse ato. Todo fiel católico é contra o aborto.” Segundo ele, a ideia da vigília, que conta com orações e cartazes antiaborto, é “ensinar que o aborto é errado e que há meios de evitar que ele aconteça”.

O também ex-estudante de Teologia e de Filosofia declara instruir mulheres de que o aborto não é opção, “dando meios para que ela continue a gravidez — mesmo que indesejada ou por estupro”. Sem considerar a saúde física, emocional e aspecto psicossocial dessas mulheres, as alternativas oferecidas são deixar o bebê para adoção e/ou acompanhamento das necessidades espirituais, temporais ou financeiras.

O ato dito como “pacífico” causa incômodo em algumas pessoas, em especial mulheres que procuram a unidade de saúde para esse viés, como aconteceu em 2020 com uma paciente vítima de estupro que se disse constrangida pela vigília. Na época, o caso foi parar na delegacia, após ela declarar ter sido xingada e agredida fisicamente por integrantes do movimento, que negaram a acusação.

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Liham rebate o incômodo, dizendo que a oração não constrange. “É uma súplica a Deus pelo fim do aborto Brasil e no mundo inteiro. Dizer que oração é ato que constrange pode ser, sim, vilipêndio à fé. Tem profissional do próprio hospital que é contra, que nos insulta. Uma funcionária, no primeiro dia, fez gestos de insulto à nossa oração.”

Uma enfermeira do hospital, que não quis ser identificada, retruca o ato: “Pode até chamar atenção de quem passa na rua, mas não vai impedir que mulheres violentadas façam o aborto com respaldo da lei.” E defende a importância da prática na unidade de saúde: “Aborto é uma questão de saúde pública. São meninas e mulheres traumatizadas com a violência sofrida. Não há tempo para julgá-las.”


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